Introdução: As doenças desmielinizantes, como a esclerose múltipla ou a neuromielite óptica, frequentemente prejudicam a condução de sinais dos nervos pélvicos, fato que, associado ao processo de envelhecimento, pode provocar disfunções do trato urinário inferior, incontinência urinária (IU) ou incontinência fecal (IF). O conhecimento científico sobre o tratamento conservador deste tipo de doenças é escasso.Objetivo: O objetivo deste trabalho é descrever os resultados obtidos mediante a aplicação de um programa de fisioterapia para o tratamento da IU e IF em uma paciente portadora de doença desmielinizante. Método: Trata-se de uma mulher de 63 anos que teve três episódios de mielopatia dorsal e que foi diagnosticada de neuromielite óptica, após detectar a presença de anticorpos IgG anti-NMO, alterações visuais e ausência de lesões cerebrais. O tratamento farmacológico mediante imunodepressores favoreceu uma evolução clínica satisfatória. No entanto, como consequência da desnervação parcial do assoalho pélvico, a paciente apresentava IU e IF como sequelas neurológicas que motivaram à paciente pela procura de tratamento de fisioterapia no Hospital Can Misses (Ibiza, Espanha). Este tratamento, de 3 meses de duração, foi baseado na electroestimulação vaginal e anal, os exercícios do assoalho pélvico com biofeedback vaginal e anal, a ginasia abdominal hipopresiva e os conos vaginais, e teve por objetivo melhorar a qualidade de vida e reduzir os sintomas da IU e IF. Após este período, recomendou-se à paciente continuar com os exercícios no seu lar. As medidas de resultados principais foram o Questionário de King de qualidade de vida e o Questionário de Qualidade de Vida de Incontinência Anal. Também se utilizou o International Consultation on Incontinence Questionnaire-Short Form, que avalia a quantidade, frequência e impacto das perdas urinárias, o Incontinence Severity Index, a escala de Wexner-Cleveland, que gradua a severidade da IF, a perineometria, a força muscular do assoalho pélvico mediante palpação vaginal e a melhoria subjetiva com o Patient Global Impression of Improvement. Realizaram-se três avaliações: basal, final (após 3 meses de tratamento ambulatório) e uma revisão (após 5 meses da finalização do tratamento ambulatório).Resultados: Foi observada uma melhora da qualidade de vida, diminuição da severidade da IU e IF, aumento da força muscular do assoalho pélvico, após os 3 meses de fisioterapia. A paciente referiu melhoria e ausência de efeitos adversos pelo tratamento. Na revisão, os escores dos questionários de qualidade de vida foram semelhantes ou inclusive superiores em alguns dos domínios. No entanto, a força muscular diminuiu consideravelmente e também o grau de melhoria subjetivo.Conclusão: O tratamento conservador mediante fisioterapia do assoalho pélvico melhorou a qualidade de vida desta paciente portadora de doença desmielinizante, assim como a severidade da IU e IF. São necessários mais estudos para obter maior evidencia científica sobre o tratamento das doenças desmielinizantes e as suas sequelas.