A literatura, assim como toda forma de expressão artística, está em constante transformação e reflete a sociedade em toda sua complexidade. Nesse contexto, a produção literária infantojuvenil segue os mesmos parâmetros e absorve formas de narrar condizentes com a atual flexibilidade, promovida pela mídia e pelas ferramentas de atuação leitora. A obra Coraline (2003), do autor inglês Neil Gaiman, é um exemplo de uma narrativa moderna que se apodera de vários elementos atuais e os mescla com aspectos advindos dos contos maravilhosos, em uma mistura de modernidade e tradição condizente com uma produção contemporânea. Propp (2006) identifica uma morfologia para os contos maravilhosos, e Coraline (2003) consegue seguir essa estrutura na configuração de uma narrativa híbrida, com elementos vários que garantem sua atualidade e proximidade com aspectos definidos por este autor. Essa discussão é parte da dissertação de mestrado “Os espaços de indeterminação e as implicitudes do leitor em Coraline (2003), de Neil Gaiman”, e faz um recorte dos tópicos apresentados, com maior atenção à forma e constituição da narrativa. Por meio das discussões de Iser (1996) e Eco (2004), esse texto procura relacionar a atuação leitora e como o atendimento a determinado gênero solicita do leitor certas formas de ler, enquanto a liberdade das narrativas atuais também afeta a atuação e formação do leitor jovem.