Considerando a importância do letramento literário para a formação do pensamento crítico do professor em formação inicial, neste trabalho, sugerimos o abandono da concepção de letramento de enfoque autônomo, que compreende esse processo como algo independente do contexto social, para aderir ao letramento de enfoque ideológico, que concebe as práticas de letramento como sendo associadas à práticas culturais diversas, ligadas à leitura e à escrita, nos vários contextos da vida cotidiana (ROJO, 2009). Assim, olhando pelo prisma ideológico, queremos destacar, no presente trabalho, a produção literária da escritora e historiadora argelina Assia Djebar, que retrata realidades específicas vivenciadas durante o período no qual a Argélia (norte do continente africano), vivia sob o peso da colonização francesa. Nestas reflexões, temos como objetivo enfatizar as operações de resistência e de transgressão feminina, presentes na produção literária de Assia Djebar, tendo como corpus alguns dados colhidos durante uma experiência de leitura literária da referida obra, em uma turma de professores de FLE (Francês como Língua Estrangeira) em formação inicial, bem como determinados excertos do romance L’amour, la fantasia. A nossa pesquisa, de características descritiva e interpretativista, traz como resultados, a identificação da escritora Assia Djebar como porta-voz da mulher daquela região da África, destacando a presença de traços discursivos que revelam a forma como a autora retrata a si mesma e, também, às mulheres árabes nas sociedades africanas ao norte do Saara, através dos personagens femininos, buscando, pois, a liberdade de ser e de existir.