O Estado do Pará conta com baixos índices de escolarização, uma alta taxa de analfabetismo e que a distorção idade-série ainda se apresenta bastante significativa. As estatísticas denunciam imensos desafios que precisam ser enfrentados para cumprir os preceitos preconizados nos marcos legais educacionais brasileiros para a escolarização dos povos do campo e da floresta. Neste contexto, inserem-se as escolas multisseriadas, compreendidas como políticas educacionais voltadas para as populações campesinas, ofertadas pelo poder público municipal, e visam a escolarização de alunos do meio rural, nas séries iniciais do Ensino Fundamental. As escolas multisseriadas, a despeitos das complexas teias que as engendram, ainda configuram uma alternativa de escolarização à população do campo. Ainda que de forma precária, atendem às necessidades de escolarização do meio rural. O artigo socializa um estudo realizado em uma escola multisseriada, localizada no meio rural do sudeste paraense, no município de Conceição do Araguaia, em 2015. Investiga sobre as possibilidades pedagógicas que transgridem o paradigma da seriação e potencializam as aprendizagens dos alunos dessas escolas, uma vez que valorizam a heterogeneidade e compreendem o campo como espaço de diversidade cultural e identitária, Porém, as classes multisseriadas ainda resistem à nucleação, que contribui para a redução de matrícula e o êxodo rural. Utilizou-se a história oral como metodologia, na perspectiva da abordagem qualitativa, com roteiro de entrevistas semiestruturado, ouviu-se de professores sobre as trajetórias e contextos em que atuam. As entrevistas foram transcritas e incorporadas para apreender os relatos dos professores, as discussões, resistências e a persistência em acreditar no modelo multisseriado, como uma alternativa educativa viável para a Educação dos povos que vivem no e do campo. Buscamos também contrapor concepções preconceituosas e refletir sobre a necessidade de uma plena interação desse modelo de ensino na atualidade e a possibilidade de atuação em salas multisseriadas, pois estas podem constituir numa boa alternativa para a educação ofertada aos povos do campo e da floresta, na medida em que houver maior investimento na formação dos professores que lá atuam, na infraestrutura das escolas, e uma proposta pedagógica que valorize os saberes e especificidades culturais da população do campo. Desvelou-se que, a diversidade e a heterogeneidade, características das classes multisseriadas, devem ser usadas como fatores positivos na construção da convivência cooperativa e geradora de aprendizagens significativas.