Este trabalho apresenta os resultados de nossa pesquisa referente a (re) significação das práticas educativas alimentares de cactos e de bromélias no semiárido da Paraíba nas memórias da comunidade Moita no ano de 2008. Memórias essas que buscam desnaturalizar as identidades dos espaços e dos sujeitos e os estereótipos construídos culturalmente quanto ao uso dos cactos e das bromélias na alimentação humana. Para que possamos analisar as transformações culturais, os hábitos alimentares que (re) significaram os discursos modernizantes, buscamos explorar tais significações a partir das falas de seus antigos (re) moradores, possibilitadas pela memória. Consoante as evidências orais, também foi possível perceber outros discursos depreciativos referentes ao mesmo costume, através das evidências escritas enunciadas pelo discurso oficial agenciada pela historiografia da alimentação. Neste sentido, nossos narradores enunciaram transformações vividas na localidade Moita, e demonstraram sensibilidades positivas sobre estas comidas. Conforme eles, esses alimentos além de serem gostosos, são saudáveis e medicinais e que mesmo nas épocas de farturas continuavam praticando este costume, associado as identidades tidas como “tradicionais”. Mas graça as táticas dos habitantes da comunidade Moita, os alimentos derivados dos cactos e das bromélias se reinventaram, driblaram o discurso oficial, resultando na construção de uma agroindústria em 2003, de alimentos provenientes dessas respectivas plantas. Devemos chamar também a atenção para o fato de os alimentos advindos dos cactos e das bromélias eram consumidos no primeiro momento quase em in natura. Mas, com o decorrer do tempo, esses hábitos reinventaram essas identidades e assumem outras. O açúcar e o coco são acrescentados as receitas que se utilizam principalmente dessas plantas. Logo o dualismo entra na mesmidade. O velho/novo, o moderno/atrasado se misturam no bolo, no suco, na cocada, na sopa, no caldeirão, no forno e no tacho. Não há como colocar uma barreira entre eles. Estão a todo o momento se deslocando. È a cultura reinventando o cheiro, o sabor e o olhar.