As constantes mudanças que caracterizam a sociedade moderna resultam de seu caráter reflexivo diante das divisões e antagonismos sociais, dando origem às contradições da formação de identidades, constituídas na relação do “eu” com o “Outro” em suas várias representações simbólicas. Tais contradições estão presentes nas manifestações literárias que mimetizam o caráter reflexivo da modernidade. O objetivo deste trabalho, portanto, é discutir algumas questões apresentadas na obra de Doris Lessing, Debaixo de minha pele: primeiro volume de minha autobiografia, até 1949, observando as identificações e as diferenças na relação do “eu” com o “Outro”, em diferentes representações simbólicas, destacando aspectos socioculturais que envolvem questões de gênero, classe social e raça/etnia. Na análise da referida obra, verifica-se uma narrativa construída a partir de reflexões sobre o processo de criação literária, o processo seletivo da memória e mudanças de perspectivas de visão de mundo em diferentes fases da vida.