No final da década de 1980 ocorreu uma transição política no Ceará em que os novos representantes oriundos de grupos empresariais do setor industrial adentraram a política com a perspectiva econômica modernizante, modificando a gestão pública, inclusive, no campo dos recursos hídricos de modo a construírem o atual modelo de gestão hídrica. O modelo vigente de gestão de recursos hídricos tem prezado pela edificação de grandes obras de engenharia hidráulica com foco nos açudes e nos eixos de transferência. A construção de reservatórios é oriunda de uma política hídrica de longa data, enquanto os eixos de integração tiveram ênfase na transição do século XX para o XXI. Nesse contexto, a gestão da oferta tem sido a vertente privilegiada no tratamento governamental dos recursos hídricos no estado com vistas ao atendimento da crescente demanda dos novos setores produtivos. O objetivo central da pesquisa foi analisar a construção do CAC no âmbito da reestruturação produtiva, procurando-se relacionar como esta infraestrutura hídrica atenderá as demandas sociais e dos setores produtivos. A metodologia foi estruturada na realização de pesquisa bibliográfica, de pesquisa documental e de realização de trabalho de campo para conhecimento in loco do CAC. O discurso governamental é de que o CAC será uma garantia de que a escassez de recursos hídricos será bastante minimizada no Ceará. Contudo, os estudos de demanda hídrica presentes no relatório de impacto ambiental sinalizam que sua função social está imbricada com a modernização econômica. O CAC está inserido em um projeto de maior envergadura, a transposição de águas do rio São Francisco. Seu Trecho 1 (Jati - Cariús) está em fase de conclusão. Apesar do projeto do CAC contemplar o abastecimento humano rural e urbano, a análise empreendida indica que a irrigação será o segmento mais beneficiado e, em menor proporção, o industrial. Os caminhos das águas não são mais determinados unicamente pela hidrografia. Um novo mapa das águas está sendo engendrado, onde o império da ciência e da técnica através da transformação da natureza via infraestruturas tem remodelado a concentração e a distribuição territorial dos recursos hídricos, obedecendo à lógica acumulativa do modo de produção.