RODRIGUES, Hermano De França. Relações perigosas: gênero e meretrício na mpb. Anais II CONEDU... Campina Grande: Realize Editora, 2015. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/16902>. Acesso em: 25/11/2024 18:11
Este trabalho propõe-se a analisar a presença e o papel das ideologias na canção Folhetim, de Chico Buarque de Holanda. A composição faz parte da obra A Ópera do Malandro, encenada pela primeira vez em 1978, na qual se evidência o caráter ambíguo dos personagens, cujas ações são marcadas pela malandragem, astúcia e dissimilação. Não há lugar para estereótipos ou conceitos pré-fabricados. O ser humano, aqui, ocupa o teatro da vida despojado de seus “vícios”, que se convertem, por vezes, em atributos valorizados, contrariando o imaginário hegemônico. Deparamo-nos com homens e mulheres ardilosos, cônscios de seus lugares e discursos, capazes de questionar a realidade que os circundam. Rejeitam a passividade e agem sobre o outro, manipulando-o conforme suas necessidades. Mesmo os sujeitos que, aparentemente, poderiam ser considerados vítimas, como a prostituta, na realidade, não o são. Eis a problemática presente em nosso corpus. Imersa, historicamente, nas discussões políticas e sociais que circulavam nos últimos anos da década de setenta, sobretudo no tocante ao mercado do prazer, a peça buarquiana instaura um certo mal-estar ao delegar a voz àquela que, numa visão conservadora e determinista, habita, ainda em plena modernidade, o submundo do sexo. Em Folhetim, a prostituta nega os signos da desgraça e da desventura (há muito utilizados para justificar sua condição) e assume o desejo, o gozo e a satisfação de superar, no sexo ou por meio deste, o homem. Nossas investigações fundamentaram-se nos postulados operacionais da semântica lexical, especialmente os concernentes aos processos de sinonímia, antonímia, hiponímia e hiperonímia, estabelecidos por BARBOSA (2006).