Artigo Anais do XXI O Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional (Sessão Livres)

ANAIS de Evento

ISSN: 1984-8781

INTELECTUAIS AFRODIASPÓRICOS E A CIDADE: RUMO A UMA DECOLONIALIDADE À BRASILEIRA

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Outra questão é que, de escritos fundacionais ancorados em crítica literária, filosofia e sociologia, o giro decolonial tende a ignorar dimensões espaciais em torno da colonialidade (ESCOBAR; VERÍSSIMO, 2020; NAME, 2021). Também prioriza cosmologias indígenas, especialmente andinas, negligenciando dinâmicas afrodiaspóricas e o racismo antinegro de marcas profundas em países como o Brasil. Esta Sessão Livre, de proponentes com diferentes vínculos com o grupo de pesquisa ¡DALE! (Decolonizar a América Latina e seus Espaços), pretende-se uma contribuição para “espacializar” e “enegrecer” o giro decolonial, inclusive para “abrasileirá-lo”. Se a colonialidade, afinal, concretiza-se na ocupação e na exploração de espaços — traço definitivo da “colonialidade territorial” (FARRÉS-DELGADO, [2019] 2024) —, é essencial voltar seu debate tanto aos saberes espaciais quanto aos conflitos, às rotas de resistência e aos caminhos de emancipação de grupos afrodescendentes. Também é preciso destacar o papel de intelectuais negras e negros nas lutas anticoloniais. Trazemos ao debate, então, Beatriz Nascimento, Édouard Glissant, Lélia Gonzalez e Luiz Rufino, que pensaram, a seu modo, as diásporas africanas na América Latina, no Caribe e no Brasil. Não classificamos tais intelectuais como “decoloniais”: o único que assim se declara é Rufino e não haveria nada mais colonial — e racista — que dar a pessoas negras nomes que não escolheram. Queremos, na verdade, destacar suas singularidades, poucas vezes debatidas por maiores expoentes do giro decolonial, para apontar suas contribuições a uma possível “decolonialidade à brasileira”, por sua vez atenta ao espaço urbano. Nossa rota pela diáspora africana e por entre algumas das teorizações a seu respeito se inicia no Caribe, com Édouard Glissant e a Cidade Arquipelágica, proposta de comunicação de Adriana Caúla. A pesquisadora da EAU-UFF debruça-se sobre o projeto poético e histórico do intelectual martinicano, que rompe com matrizes ocidentais a partir de conceitos como crioulização, identidade e opacidade; e que propõe o protagonismo do sujeito afrodiaspórico na criação de uma experiência cultural própria, ao mesmo tempo transpassada por fluxos e enraizada no território. Sua intenção é conectar Glissant a outras experiências coloniais e propor uma reflexão sobre a “cidade arquipelágica”, entendida como utopia aberta. O trajeto prossegue por circuitos entre a América Latina e a África, com Lélia Gonzalez e a Cidade Amefricana, proposição de Leo Name. O pesquisador do PPG-AU/FAUFBA sublinha a importância desta autora afro-brasileira, por ter destacado o papel da mulher negra na formação sociocultural brasileira, explicitado a contradição entre a pobreza e a violência que afetam afrodescendentes e o enunciado da “democracia racial" e, ainda, formulado a noção de “amefricanidade”. 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Aponta, ainda, seu empenho em prover um lugar central à população negra na produção geo-histórica das cidades brasileiras e sua interpretação, revelando continuidades da experiência colonial — um legado epistemológico que permanece fundamental para a análise do urbano no país. Nossa última parada é no Rio de Janeiro. Luiz Rufino e a Cidade Maravilhosa: A Encruzilhada e o Resgate da Ancestralidade Afrodiaspórica é a proposta de Amaro Sérgio Marques para encerrar a Sessão Livre. Partindo da recente obra de tal intelectual carioca, orientada ao papel das religiões de matriz africana no urbano e às encruzilhadas como símbolos de resistência e encontros sagrados, o pesquisador do PPGArq/PUC-Rio aborda a produção de territorialidades negras como contraponto à gentrificação e à violência. Destaca, especificamente, um trecho da Pequena África e o Santuário de Seu Zé, na Lapa, como territorialidades da capital fluminense que fazem resistência à colonialidade e valorizam a ancestralidade afrodescendente. A partir desse resgate, aponta a necessidade de descolonizar os espaços urbanos a partir dos ensinamentos da diáspora africana."
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Também é preciso destacar o papel de intelectuais negras e negros nas lutas anticoloniais. Trazemos ao debate, então, Beatriz Nascimento, Édouard Glissant, Lélia Gonzalez e Luiz Rufino, que pensaram, a seu modo, as diásporas africanas na América Latina, no Caribe e no Brasil. Não classificamos tais intelectuais como “decoloniais”: o único que assim se declara é Rufino e não haveria nada mais colonial — e racista — que dar a pessoas negras nomes que não escolheram. Queremos, na verdade, destacar suas singularidades, poucas vezes debatidas por maiores expoentes do giro decolonial, para apontar suas contribuições a uma possível “decolonialidade à brasileira”, por sua vez atenta ao espaço urbano. Nossa rota pela diáspora africana e por entre algumas das teorizações a seu respeito se inicia no Caribe, com Édouard Glissant e a Cidade Arquipelágica, proposta de comunicação de Adriana Caúla. 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Publicado em 31 de julho de 2025

Resumo

Desde a década de 1990, o giro decolonial latino-americano, com maioria branca de intelectuais da América hispanófona, vem destacando a permanência da chamada “colonialidade do poder”, um conjunto de práticas e discursos fundeados no colonialismo e na consequente invenção da ideia de “raça”. Nessa lógica, a “branquitude” é a identidade civilizatória da ética capitalista, ainda nos dias de hoje com efeitos objetivos, subjetivos e intersubjetivos, desde a economia à produção do conhecimento (QUIJANO, 1992; 2000). Nos últimos anos, porém, a popularização do léxico decolonial no Brasil vem gerando usos indevidos e excessivos de conceitos e classificações. Não raro chama-se de “colonialidade” qualquer opressão, sem considerar a “raça” como elemento estruturante, ou rotula-se intelectuais de “decoloniais” apenas por não terem pele branca, mesmo que suas trajetórias antecedam o termo (cf. NAME; SPYER, 2023). Outra questão é que, de escritos fundacionais ancorados em crítica literária, filosofia e sociologia, o giro decolonial tende a ignorar dimensões espaciais em torno da colonialidade (ESCOBAR; VERÍSSIMO, 2020; NAME, 2021). Também prioriza cosmologias indígenas, especialmente andinas, negligenciando dinâmicas afrodiaspóricas e o racismo antinegro de marcas profundas em países como o Brasil. Esta Sessão Livre, de proponentes com diferentes vínculos com o grupo de pesquisa ¡DALE! (Decolonizar a América Latina e seus Espaços), pretende-se uma contribuição para “espacializar” e “enegrecer” o giro decolonial, inclusive para “abrasileirá-lo”. Se a colonialidade, afinal, concretiza-se na ocupação e na exploração de espaços — traço definitivo da “colonialidade territorial” (FARRÉS-DELGADO, [2019] 2024) —, é essencial voltar seu debate tanto aos saberes espaciais quanto aos conflitos, às rotas de resistência e aos caminhos de emancipação de grupos afrodescendentes. Também é preciso destacar o papel de intelectuais negras e negros nas lutas anticoloniais. Trazemos ao debate, então, Beatriz Nascimento, Édouard Glissant, Lélia Gonzalez e Luiz Rufino, que pensaram, a seu modo, as diásporas africanas na América Latina, no Caribe e no Brasil. Não classificamos tais intelectuais como “decoloniais”: o único que assim se declara é Rufino e não haveria nada mais colonial — e racista — que dar a pessoas negras nomes que não escolheram. Queremos, na verdade, destacar suas singularidades, poucas vezes debatidas por maiores expoentes do giro decolonial, para apontar suas contribuições a uma possível “decolonialidade à brasileira”, por sua vez atenta ao espaço urbano. Nossa rota pela diáspora africana e por entre algumas das teorizações a seu respeito se inicia no Caribe, com Édouard Glissant e a Cidade Arquipelágica, proposta de comunicação de Adriana Caúla. A pesquisadora da EAU-UFF debruça-se sobre o projeto poético e histórico do intelectual martinicano, que rompe com matrizes ocidentais a partir de conceitos como crioulização, identidade e opacidade; e que propõe o protagonismo do sujeito afrodiaspórico na criação de uma experiência cultural própria, ao mesmo tempo transpassada por fluxos e enraizada no território. Sua intenção é conectar Glissant a outras experiências coloniais e propor uma reflexão sobre a “cidade arquipelágica”, entendida como utopia aberta. O trajeto prossegue por circuitos entre a América Latina e a África, com Lélia Gonzalez e a Cidade Amefricana, proposição de Leo Name. O pesquisador do PPG-AU/FAUFBA sublinha a importância desta autora afro-brasileira, por ter destacado o papel da mulher negra na formação sociocultural brasileira, explicitado a contradição entre a pobreza e a violência que afetam afrodescendentes e o enunciado da “democracia racial" e, ainda, formulado a noção de “amefricanidade”. Essa categoria político-cultural examina criticamente tanto o nefasto legado da formação colonial latino-americana quanto a resistência, baseada em solidariedade e criatividade, dos grupos negros que reinventaram a África nas Américas. Debatê-la, então, vem em auxílio à compreensão da cidade como unidade complexa e contraditória, produto do trabalho coletivo e marcada por resistências e reinvenções de legados étnico-raciais. O passo seguinte chega a Beatriz Nascimento e a Cidade sob o Prisma Racial da História, assentando-se no Brasil e nas contribuições desta historiadora afro-brasileira aos estudos sobre a questão racial. Frank Andrew Davies, pesquisador do PPGEO-UERJ, assinala o destaque dado pela autora aos quilombos, compreendendo-os como sistemas sociais alternativos na formação do território e da identidade nacionais. 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