O artigo traz reflexões provenientes da minha tese de doutorado, que buscou compreender o olhar das crianças da educação infantil de 04 a 05 anos que participam das atividades do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros - NEAB AYÓ da Escola Municipal Clementino Fraga, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, sobre as questões étnico-raciais. Através de abordagens socioantropológicas com foco nas infâncias, foi estabelecido um diálogo com as crianças sobre sua agência. A pesquisa baseou-se principalmente na etnografia. Aqui, as crianças são consideradas sujeitos ativos e não objetos de estudo, pois acredita-se em sua capacidade de se comunicar com adultos, outras crianças e o mundo ao seu redor, sendo capazes de descrever suas próprias vivências. Após minha análise, cheguei à conclusão de que o NEAB AYÓ tem desempenhado um papel importante ao ajudar as crianças a reavaliarem sua própria identificação étnico-racial. Em determinados casos, crianças declaradas pardas, que antes eram classificadas assim por seus responsáveis e por si mesmas, passaram a se autodeclarar como negras. Da mesma forma, algumas crianças de pele branca começaram a se reconhecer como pardas. As atividades promovidas pelo núcleo levam as crianças a refletirem sobre suas identidades negras e brancas na autodeclaração. Os ativistas antirracismo encorajam as crianças a denunciarem quaisquer atos de discriminação racial sofridos por seus colegas.