BUENO, Enrico et al.. O projeto de vida no currículo goiano: um estudo crítico. Anais do X CONEDU... Campina Grande: Realize Editora, 2024. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/111620>. Acesso em: 24/12/2024 22:05
O objetivo desta comunicação é apresentar uma síntese crítica da proposta para o componente curricular Projeto de Vida, segundo o Documento Curricular para Goiás - Etapa Ensino Médio (DC-GOEM), que apresenta a estrutura do Novo Ensino Médio no estado. Para tal, foi realizada uma investigação qualitativa, mediante análise de conteúdo, que se desdobrou em três etapas: na primeira, estudamos a justificativa e fundamentação pedagógicas alegadas para a inclusão do novo componente no currículo. Na segunda etapa, analisamos a proposta concreta para sua operacionalização, considerando habilidades, temas, conteúdos e metodologias indicadas. Por fim, introduzimos uma discussão crítica acerca de alguns elementos ideológicos envolvidos na proposta, em particular: a) a ideologia da livre escolha profissional; b) a responsabilização individual; c) a preparação para um mercado de trabalho flexível; d) a concepção autocentrada de sujeito; e) a aversão ao conflito social; f) a apropriação de conteúdos sociológicos sob registro individualista. A fundamentação teórica foi constituída por abordagens da sociologia crítica da educação (Pierre Bourdieu), estudos contemporâneos sobre neoliberalismo escolar (Pierre Dardot e Christian Laval) e trabalhos específicos sobre currículo de Ensino Médio no Brasil. Em geral, a pesquisa identificou como a proposta mobiliza concepções de liberdade e autonomia em consonância à subjetivação neoliberal, em que noções como protagonismo e tomada de decisão são construídas sob registro estritamente individual a partir de processos e mecanismos sociais voltados à construção do indivíduo-empresa, que deve “gerir” sua vida desde cedo de forma orientada ao sucesso, e cujos fracassos são atribuídos à má gestão decisória. Aponta, também, uma ambivalência entre uma valorização abstrata e não problematizada dos “sonhos” e uma tendência à naturalização do contexto social em que o aluno está inserido, conectando-a com uma noção não problematizada da meritocracia e da responsabilização individual, bem como com a reflexão crítica sobre a ideologia da livre escolha profissional.