Elege-se uma criança com paralisia cerebral para investigar o processo de inclusão a partir de uma perspectiva vigotskiana, percorrendo elementos de significação das interações travadas no cotidiano de uma sala de aula regular. O material empírico apresentado resultou de um estudo de caso longitudinal desenvolvido em seis meses através da observação videogravada das atividades pedagógicas em sala de aula registrando as interações de dezesseis crianças e professoras, selecionando episódios de interação, analisados numa perspectiva microgenética. O processo de análise foi complementado por anotações em diário de campo e entrevistas semi-estruturadas com a professora da sala de atendimento educacional especializado e dois membros da família da criança. Algumas das análises nos permitem afirmar que as singularidades do processo de desenvolvimento da criança vão se configurando especialmente através das ações (gestos e compartilhamentos de objetos materiais) e falas dos seus parceiros de idade. Instrumentos e signos foram apresentados à criança para que ela os manejasse conjuntamente com os seus parceiros; é importante reconhecer que, em diversos momentos, quando ela tenta dar outros sentidos às atividades realizadas ou voltar sua atenção para outros objetos ou eventos do entorno ela nem sempre foi considerada. Crianças pareciam mais propensas a respeitar sua intencionalidade e os adultos foram movidos por seus objetivos perseguidos pela intervenção planejada numa perspectiva pedagógica fundamental. Estratégias de comunicação foram produzidas pela criança para manter-se no fluxo interacional cotidiano. A relação de extensão corporal entre a criança e a professora que atuava como sua cuidadora desnudou na realidade da experiência investigada o quanto estes sujeitos compartilhavam de objetos comuns plenos de significação e podiam, paradoxalmente: distanciar-se quando o adulto como maior potencial de manejo das interações ignorava as motivações e disposições da criança, frente aos desafios e possibilidades de ação no cotidiano da sala de aula em seus momentos de aprendizagem e desenvolvimento.