A pedagogia de emergência visa trabalhar com atividades que diluam os traumas vivenciados pelas crianças e adolescentes em diversas situações de crise, tragédia ou emergência. Recentemente, o Vale do Taquari passou pela segunda maior cheia dos últimos 80 anos desabrigando inúmeras famílias em diversas cidades. A escola sobre a qual falaremos neste resumo foi totalmente devastada, havendo várias residências de alunos da escola atingidas. Em situações dessa natureza, é importante acolhermos e escutarmos os estudantes que desde tão cedo presenciaram esses dias de aflição. Foi através da necessidade que a pedagogia emergencial iniciou, em 2006, com o conflito no Líbano. Assustado com as condições em que encontrou as crianças, Bernd Ruf deu início à Pedagogia de Emergência, seguindo muitos ensinamentos da Pedagogia Waldorf. A Pedagogia Waldorf baseia-se no desenvolvimento dos alunos, tendo como base o lúdico, a natureza e as artes para o aprendizado integral do sujeito. As intervenções são realizadas por voluntários, custeados por doações que auxiliam os educadores a sobreviverem nos ambientes. O momento com as crianças segue uma rotina diária. O dia se inicia com uma acolhida, e então são iniciadas as oficinas, onde é oferecido aquarela, atividades manuais com linhas, cultivo de hortaliças, práticas corporais, entre outras. Tivemos a visita de um grupo de voluntários em algumas das cidades atingidas, no entanto, pela grande demanda e falta de tempo o grupo não conseguiu passar pela cidade de Estrela/RS, onde a escola está localizada. Em função disso, e com o intuito de auxiliarmos os educandos a passarem por esse período traumático, utilizamos as aulas de Educação Física para desenvolver algumas atividades corporais propostas pela equipe da Pedagogia de Emergência,. As atividades auxiliaram na familiarização da residente com os estudantes e no fortalecimento dos vínculos entre as turmas. A estagiária é bolsista do Programa de Residência Pedagógica, realizado pela CAPES (Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e realizou as atividades no ginásio escolar com o acompanhamento do professor preceptor para as turmas do 4°ano C, 4° ano A, 4° ano B e 3° ano A do Ensino Fundamental. Foram escolhidas cinco brincadeiras, desde a acolhida com o “Boa tarde, Colega” até brincadeiras mais ativas. As aulas são de 45 minutos e diversas turmas apresentaram dificuldades na realização, devido aos acontecimentos. Muitos estudantes se mostraram fechados, com dificuldades de cumprimentar seus próprios colegas. Nas atividades mais ativas, como o “Pega o Rabo”, todos tiveram uma participação efetiva, demonstrando a necessidade de canalizar a sua energia. Ao finalizarmos a aula de Educação Física, notou-se uma reação mais focada e aparentemente alinhada, foi conseguido observar, pois com o passar das atividades era cada vez menos necessário convidar ou atrair os educandos para perto dos colegas. Diante dos acontecimentos que acometeram nosso Vale do Taquari, a Pedagogia de Emergência pode ser utilizada como forma de reverter traumas e reorganizar os espaços escolares. Existem inúmeras atividades que podem ser realizadas até na sala de aula, e que não demandam muitos materiais, tudo para que nossas crianças e adolescentes possam voltar a crescer vendo a escola como um local de segurança. Aos poucos a Pedagogia de Emergência vem ganhando espaço no mundo educacional, mas não precisamos esperar que alguma catástrofe aconteça para discutir seus métodos.