MOREIRA, Cleumar De Oliveira. Acusticando: aqui tem goianidade. Anais do IX ENALIC... Campina Grande: Realize Editora, 2023. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/104725>. Acesso em: 23/12/2024 01:34
Este trabalho, intitulado por "Acusticando: aqui tem goianidade", apresenta de forma empírica e epistemológica, uma ação extensionista vinculada a Universidade Estadual de Goiás, Unidade Universitária de Inhumas, e protagonizada pelo curso de licenciatura em Pedagogia. A proposta (programa de rádio – entrevista musical) surgiu em meados de 2020 (período pandêmico) e consolidou-se em 31/01/2021, data da realização da primeira edição. O “Acusticando” é um programa de rádio promovido pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) em parceria com as rádios UEG-Educativa (com sede em Goiânia-GO; na UEG-Unidade de Laranjeiras - formato web) e JornalFM96.5 (com sede em Inhumas-GO; uma empresa fundada em 1961). O escopo do projeto é lançar mão da música popular brasileira e de cantores goianos (caipira, sertaneja, pop, rock) como forma de compreender a formação identitária de nossa gente, a partir daqueles que habitam e antropisam a região metropolitana de Goiânia-GO. Desse modo, este trabalho (materializado pelo fazer musical) é de suma importância para compreender os princípios norteadores da chamada, ou seja, dos elementos que elencam os pilares caracterizadores do “ser goiano”. Os objetivos da ação estão balizados no desenvolvimento de conteúdos que potencializam e valoram as essências identitárias do goiano (por meio da música e de seus cancioneiros); é difundir, irradiar e produzir cultura e entretenimento propositivo, pautado na musicalidade popular; é despertar o sentimento de pertencimento e gosto pela sonoridade, tanto de cunho local quanto regional; intenciona-se em ressignificar a importância do rádio enquanto veículo não-formal de ensino, no entanto, dissipar saber, arte, música e a cultura popular; é apresentar à comunidade goiana parte de seus fazedores e dinamizadores de sentido; enfim, é cultivar a música popular goiana enquanto patrimônio imaterial, de Goiás. Para compreender a construção dessa goianidade, a nossa metodologia se assenta na criação de uma agenda dominical-semestral das atrações (pluralidade de estilos musicais); em prosas musicais que acontecem de forma presencial (entrevistas na modalidade podcast); na participação de cantores, compositores, escritores e memorialistas (fazedores de cultura), demiurgos da região metropolitana de Goiânia-GO; diálogos com outros sujeitos culturais que habitam outras macrorregiões do estado de Goiás. É preciso destacar que o programa acontece (ao vivo) na sede da JornalFM96.5 (Inhumas-GO), sendo (o sinal) retransmitido pela Rádio UEG-Educativa (Goiânia-GO). A operacionalização do Programa e ancorado pelo professor Cleumar de Oliveira Moreira (docente do curso de Pedagogia e atual coordenador da UnU-Inhumas) e protagonizado pelos graduandos de Psicologia (Luiz Rigon e Karen Khrislley Ferraz) e Letras (Natalino Teles), todos na condição de colaboradores. Os discentes extensionistas são agentes fundamentais nos processos de organização, agendamento das atrações, registros de imagens (fotografias e filmagens), atendimento ao público (via telefone e WhatsApp), gestores das redes sociais, e, também, apresentadores. O programa acontece aos domingos, das 9h às 12h. Como forma de gerar material (fonte primária), as entrevistas e as prosas musicais são gravadas e transmitidas pelas frequências da JornalFM96.5 (transmissor de 5 megaherts – potência que ultrapassa um raio de 100km, de alcance), ao vivo (em formato de vídeo-lives) pelos canais do Facebook e Youtube da UEG-Unidade Universitária de Inhumas. A divulgação das entrevistas e/ou apresentações são publicizadas por meio de material digital em redes sociais das Instituições e dos coordenadores e executores da ação. Nesse interim, como fundamentação epistemológica (indispensável para dialogarmos acerca da cultura enquanto força identitária), tomamos Santos (1987), Pessoa (2009), Ghiraldelli Jr (2006), Niskier (2007), Laraia (2009) e Hall (2002) A primeira categoria tratada aqui é a cultura. Para compreendê-la, Santos (1987) e Laraia (2009) destacam que é preciso entender que "cultura” tem significado plural, cuja riqueza está na sua diversidade e que todos são agentes produtores de valores. Destacam, também, que o acesso à cultura é um movimento potente e excludente. Faz-se necessário romper com o caráter elitista da cultura (acesso ao conhecimento, arte, música, literatura), como força ideológica capaz de reproduzir mecanismos de controle e dominação, que distanciam a arte das camadas vulneráveis. O rádio é uma ferramenta de comunicação (a priori criado para garantir controle e dominação social) que pode ressignificar a cotidiano das pessoas. Como forma de compreender nossas essências, discutimos acerca da categoria "identidade", para isso lançamos mão de Hall (2002) que debate a importância da cultura enquanto elemento de construção identitária, aquilo que dá sentido as nossas vidas, que permite desconstruir a cultura dominante, bem como, tem força de indicar caminhos que colocam as pessoas na condição de sujeitos de seu tempo e protagonistas de sua existência. Na perspectiva de Niskier (2007), o processo de ensino-aprendizagem acontece em instituições educacionais formais e não-formais. A educação formal é predominante em instituições como Escola e Igreja, enquanto que a educação não-formal é processada em instituições como a família, Estado, televisão e por outros meios de comunicação (rádio, jornal, entre outros). Pessoa (2009) destaca que a educação de cunho não-formal precisa ser mais bem contextualizada. Segundo o autor, há diferença entre educação não-formal e educação informal, no nosso caso a rádio seria de cunho não-formal. Na educação não-formal existe uma intencionalidade de dados sujeitos de buscar determinadas qualidades e/ou objetivos. Congruente aos olhares de Niskier (2007) e Pessoa (2009), acreditamos que o rádio assume o seu papel de “escola”, uma ferramenta de instrução capaz de formar novos hábitos e romper paradigmas nos sujeitos. O que seria a escola? Pelas lentes de Ghiraldelli Jr (2006, p.13), a escola é lugar de aprendizado; é o espaço em que se aprende metodicamente e ludicamente; instrução e o lazer são características próprias desses ambientes; a escola é “um local diferenciado que abriga pessoas que a contemporaneidade considera especiais”. Convergente ao pensamento de Niskier (2007), temos subsídios suficientes para sustentar nossa hipótese de que o rádio, também, é uma instituição educacional não-formal. Assim como a família, o Estado, a TV, as mídias digitais, o rádio é capaz de ajustar os indivíduos aos ambientes físico e social. Assim, é preciso destacar que o rádio é um mecanismo não-formal de ensino. É um veículo de comunicação capaz de potencializar valores e essências nas estruturas sociais; tem força concreta apta para mudar hábitos, práticas e pensamentos nas chamadas células sociais (nos indivíduos). É preciso destacar que as instituições escolares (indiferente de seus níveis de ensino – fundamental, médio ou superior), com suas salas de aulas, laboratórios, metodologias, estratégias didáticas-avaliativas, suas instrumentalizações, entre outros; não são meios exclusivos, capazes de promover dialogia e/ou ensino-aprendizagem. A formação humana nos indivíduos (transformação destes em sujeitos históricos), pode acontecer, tanto por força da educação formal quanto da educação não-formal. Desse modo, eivado por concepções educacionais, antropológicas e tecnológicas (projeto de extensão celebrado entre a universidade pública e o espaço privado - empresa de rádio) sinalizamos pela reconstrução e ressignificação de valores, hábitos, costumes que são indispensáveis para compreender a nossa goianidade (essências que identificam o goiano). A cultura popular é capaz de dar sentido/identidade à nossa goianidade. Acreditamos que é necessário compreender os elementos constitutivos de nossa cultura popular, estruturas nevrálgicas que definem a identidade do povo. Para tal, é preciso desconstruir a cultura dominante (cultura de massa/alienante), tomada por uma visão objetificadora e mercadológica. Sendo assim, acusticar é o ato de narrar origens, essências, experiências e histórias... acusticar é síntese de goianidade.