GOMES, José Cleudo et al.. A homofobia trabalha ao lado: o preconceito entre docentes. Anais XI CONAGES... Campina Grande: Realize Editora, 2015. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/10460>. Acesso em: 22/11/2024 23:56
A massificação da homofobia na escola também está associada à postura de professores/as que reproduzem práticas homofóbicas, o que se comprova pelas inúmeras pesquisas quantitativas e estudos qualitativos realizados no interior de escolas, a exemplo deste estudo, que resultou de trabalho de conclusão do Curso de Pedagogia na Universidade Federal da Paraíba, no ano de 2013. Neste artigo, o objetivo geral é analisar efeitos de uma formação docente para a superação da homofobia entre profissionais de uma escola pública em João Pessoa/PB. Manifestações de discriminação e preconceito com relação a um professor gay da escola motivaram a intervenção cujos efeitos foram analisados na pesquisa. Dez meses após o processo de formação docente sobre as temáticas de gênero e sexualidade (de que os autores deste artigo também participaram) envolvendo educadores (colegas do professor discriminado), retornamos a escola para identificar possíveis efeitos da intervenção pedagógica e a eventual persistência de situações de homofobia na escola pesquisada. Adotamos, como estratégia metodológica qualitativa, a entrevista no contexto de um estudo de caso do professor alvo da homofobia: os dados coletados com esse instrumento evidenciaram que as práticas homofóbicas continuaram na escola, provavelmente porque o corpo docente teve dificuldades em romper com padrão heteronormativo; parte dessa dificuldade é interpretada como resultado da rígida associação entre heteronormatividade e identidades, em especial a identidade sexual; mas a análise dos dados também indicou que o projeto contribuiu para uma mudança de postura do professor discriminado, ainda que essa mudança também tenha revelado estratégias defensivas utilizadas para negar e evitar o confronto com os colegas. Entendemos, por fim, que, para a escola deixar de ser um espaço de opressão homofóbica, carece também questionar os fatores particulares que determinam a vulnerabilidade do alvo de violência e a reprodução, entre docentes, dos padrões preconceituosos: no caso estudado, por exemplo, a condição funcional do professor (cujo emprego não era estável) e sua falta de assertividade reduziam suas chances de empoderar-se; ao mesmo tempo, o baixo nível de formação dos educadores e a reprodução de discursos religiosos mantinham a cultura escolar presa à heteronormatividade.