O presente estudo foi realizado pela equipe de coordenação institucional do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) e do Programa de Residência Pedagógica (RP) da Unicamp e teve como objetivo levantar informações sobre as contribuições dos programas na formação dos(as) futuros(as) professores(as) e também os desafios enfrentados na implementação do Pibid e da RP junto às escolas, da perspectiva de coordenadores(as) de área e orientadores(as) dos subprojetos referentes aos Editais 2022 Pibid e RP que estão em vigência na universidade. No Pibid, temos 9 subprojetos em desenvolvimento (192 cotas de bolsas ID), 8 coordenadores(as) de área com bolsa (5 sem bolsa) e 24 supervisores(as). Na RP, temos 5 subprojetos em desenvolvimento (75 cotas de bolsas para residentes), 5 orientadores(as) com bolsa (4 sem bolsa) e 15 preceptores(as). O panorama dessas informações se justifica pela importância dos programas que vêm se consolidando a cada novo edital, conforme estudos de Gatti et al. (2014) e Tezani (2022), e pela necessidade de aprimoramento nas parcerias entre as universidades e as escolas (BRAGANÇA, 2022). A Unicamp participa do Pibid desde o edital de 2009. Ao todo, no Pibid, já foram 1016 bolsas que atenderam 1958 estudantes, 138 supervisores, 47 coordenadores(as) de área bolsistas e 15 colaboradores(as) em 52 subprojetos. Na RP, foram 195 bolsas com 248 estudantes atendidos, 30 preceptores(as), 11 orientadores(as) com bolsa e 15 colaboradores(as) em 12 subprojetos. Método O levantamento foi realizado por meio de formulário no Google (o Google Forms). Foram convidados(as) para participar do estudo todos(as) os(as) responsáveis pelos subprojetos na Unicamp, os(as) 13 coordenadores(as) de área do Pibid e os 9 orientadores(as) do RP. Os formulários foram enviados por email e também no grupo de whatsapp que conta com a participação de todos(as) os(as) coordenadores(as) de área/orientadores(as). Nas reuniões mensais que são feitas entre a coordenação institucional e coordenações de subprojetos, o convite para a participação no estudo foi reforçado. No formulário, foram propostos dois pontos a serem desenvolvidos: 1- discorra sobre as contribuições do programa na formação dos(as) estudantes sob sua responsabilidade; 2- discorra sobre os desafios que vocês vêm enfrentando na implementação das ações junto às escolas. Dos 22 possíveis participantes, obtivemos o retorno de 15 docentes dos seguintes subprojetos: 9 Pibid (Arte, Biologia, Educação Física, Língua Portuguesa, Pedagogia/Geografia e Química/Física) e 6 RP (Arte, Geografia/Educação Física, História/Química e Pedagogia/Filosofia). Os dados foram analisados de forma qualitativa. Resultados 1. Contribuições Em relação ao primeiro ponto relativo às contribuições dos programas na formação docente inicial, as respostas foram agrupadas em duas unidades: “questões gerais” e “questões específicas da área”. 1.1 Questões gerais De maneira geral, os(as) coordenadores(as) de área/orientadores(as) levantaram aspectos afeitos à prática pedagógica, enfatizando a relevância da experiência vivenciada pelos(as) estudantes no contato mais próximo com a realidade escolar e com a prática profissional. Destacamos alguns enunciados sobre a possibilidade que os(as) estudantes têm de: - “discutir metodologias de preparação de aulas, planos de aula e participar ativamente do processo docente junto com as professoras supervisoras nas escolas” (Pibid Biologia). - “vivenciar os conflitos, desafios e alegrias de estar na sala de aula na posição de docente; possibilidade de observação, reflexão e compreensão da comunidade escolar na relação com a educação pública e com os aspectos político-econômicos e tecnológicos na atualidade no Brasil” (Pibid Língua Portuguesa). - “desenvolver experiências pedagógicas alinhadas aos pressupostos do direito à educação e à afirmação da diferença e em consonância com desafios suscitados em sala de aula e em acordo com os Projetos Pedagógicos de cada escola” (Pibid Educação Física). Nota-se, pelos enunciados manifestos, que a ativa participação dos(as) supervisores(as)/preceptores(as) (sejam do Pibid, ou da RP) favorece a produção de aulas conforme as proposições freireanas, de se levar em conta a realidade do aluno e da aluna, bem como inseri-los(as) como participantes ativos na produção de seus aprendizados – seja do(a) estudante da universidade, seja dos alunos e das alunas da escola (FREIRE, 1997). Há uma preocupação por parte dos(as) professores(as) formadores(as) no que concerne à aproximação dos(as) estudantes com o universo escolar e, de acordo com a percepção dos(as) participantes do estudo, isso é, em grande parte, atingido com a participação no Pibid e na RP. 1.2 Questões específicas da área As respostas agrupadas nessa unidade dizem respeito ao conhecimento dos(as) estudantes necessários para a prática docente no próprio componente curricular, tais como: - “contato com aspectos linguísticos-textuais e de letramento” (Pibid Língua Portuguesa). - “o programa contribuiu para que bolsistas e supervisores compreendessem a inserção da Educação Física na área de linguagem e códigos” (Pibid Educação Física). - “A contribuição para formação dos estudantes se fundamenta no fato de ambos os ambientes estarem desenvolvendo atividades pedagógicas na Lei 10.639/03, que indica a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” na educação” (RP Pedagogia/Filosofia). - “Criação e desenvolvimento de recursos midiáticos/multimídia, como desenvolvimento da página do Pibid Arte na internet” (Pibid Artes). Podemos perceber com esses enunciados que o tratamento de conteúdos escolares em diálogo com os acadêmicos produz novas práticas pedagógico-educativas, favorecendo não só o atendimento às diferenças socioculturais tão presentes nas escolas contemporâneas, como uma atualização do conhecimento escolar que favorece a ampliação de repertórios dessas práticas, assim como sua realização crítica, tão propalada por Freire (1987). Há o entendimento que a prática docente deve envolver tanto o domínio dos conteúdos específicos quanto as maneiras de desenvolvê-los na escola, sendo que a experiência vivenciada nos programas proporciona o contato com tais conteúdos e o aprendizado de ambos. 2. Desafios Em relação aos desafios vivenciados, as respostas também foram separadas em duas unidades: “questões pontuais” e “questões pedagógicas”. 2.1 Questões pontuais As questões mais pontuais envolveram: distância física entre a universidade e a escola parceira que leva a um custo monetário e de tempo para o deslocamento; a mudança de escola por parte dos(as) supervisores(as)/preceptores(as); dificuldade de horários comuns entre todos(as) os(as) participantes do subprojeto (estudantes, supervisores[as]/preceptores[as] e coordenadores[as] de área/orientadores[as]) para as reuniões sistemáticas de acompanhamento; falta de estrutura física de algumas escolas para a realização de experimentos; acompanhamento das ações de muitos(as) bolsistas ID e residentes levando em conta o excesso de tarefas dos(as) coordenadores(as) de área/orientadores(as) não apenas no âmbito dos programas. Essas questões pontuais levantadas pelos(as) participantes do estudo também dizem respeito à prática cotidiana de professores(as), que se defrontam com estruturas deficitárias, atribuição de aulas em escolas distantes entre outras questões. Embora esses aspectos devessem ser minimizados da melhor forma possível, o exposto pelos(as) participantes não difere do dia-a-dia de grande parte dos(as) docentes no nosso país, e tais questões necessitam ser pensadas e repensadas na busca por melhores condições de trabalho. 2.2 Questões pedagógicas Outras dificuldades se referem a questões pedagógicas e do contexto da experiência educativa como: falta de motivação e interesse dos(as) alunos(as) das escolas em participar das aulas; resistência de alguns(algumas) professores(as) em relação à mudança de paradigmas, como por exemplo a inclusão de aulas práticas; forma de lidar com os conflitos que ocorrem em sala de aula, como o colocado pelo(as) orientadores(as) da RP Arte: - “Os desafios apontados pelos/as residentes referem-se, principalmente à resolução de conflitos em sala de aula. Percebem que o enfrentamento das questões socioemocionais sobrepuja o desenvolvimento das aulas, muitas vezes” (RP Arte). Essa questão é agravada pelo número excessivo de aluno(as) por sala levando a um desgaste físico e mental dos(as) professores(as), como apontam também na mesma resposta. Também foi considerada como desafio a forma de lidar com as diferentes concepções de educação que circulam pela escola, o que dificulta, algumas vezes a comunicação entre bolsistas ID/residentes e supervisores(as)/preceptores(as). Como apontado pela coordenação da RP Geografia/Educação Física: - “Noto, às vezes, que os estudantes bolsistas se sentem parte da escola, mas os preceptores não se sentem parte da universidade e sujeitos da própria formação dos(as) bolsistas” (RP Geografia/Educação Física). Considerações finais Podemos perceber, pelos enunciados proferidos, que a parceria universidade-escola/escola-universidade vem se realizando pelo intenso trabalho coletivo entre os(as) professores(as) da universidade e os(as) professores(as) da escola, preocupados(as) com a formação dos(as) estudantes da universidade e com os conhecimentos escolares produzidos com os alunos e as alunas das escolas. Notadamente, é muito perceptível, que as questões de convivência escolar e os conhecimentos e saberes, profissionais e pessoais, mobilizados nas ações formativas construídas coletivamente favorecem a produção de saberes e conhecimentos profissionais muito além dos mobilizados nos percursos formativos dos cursos de formação de professores(as) das universidades. Há de se reconhecer que conhecimentos teórico-práticos mobilizados na formação precisam, igualmente, atender às necessidades de socialização e convivência, muitas vezes não trabalhadas nos cursos de formação docente. Podemos também reconhecer que a relação escola-universidade/universidade-escola necessita ser trabalhada de modo mais institucionalizado entre essas duas instâncias formativas, favorecendo a continuidade de ações formativas e favorecendo a construção de práticas educativas alicerçadas em conhecimentos circunstanciados que atendam às necessidades dos alunos e das alunas das escolas, como, por exemplo, aqueles indicados na Lei 10.639/03.