Os quadros depressivos vem sendo cada vez mais recorrentes no envelhecimento. Eles se relacionam indireta e diretamente com o continuum de síndromes demenciais, pois se apresentam como fator de risco para o comprometimento cognitivo leve (CCL), condição geralmente intermediária entre o envelhecimento normal e a demência. Nesse contexto, percebe-se a importância de analisar a correlação entre a depressão e os transtornos neurodegenerativos, com foco no CCL. Tendo isso em vista, este trabalho objetivou relatar um caso de paciente geriátrica de 67 anos que foi avaliada por um serviço de Neuropsicologia. A paciente apresentava sintomas depressivos desde a juventude, com histórico familiar de distúrbios neuropsiquiátricos e agravo do transtorno de humor no ano em que foi examinada. Antes do período de avaliação multidisciplinar, foi internada na urgência psiquiátrica devido à presença de delírios. Realizou-se baterias de testes de: rastreio; memória (verbal); Escala de Avaliação da Demência-2; atenção e velocidade de processamento. Constatou-se a preservação da funcionalidade na execução de atividades da vida diária. Os resultados dos testes demonstraram desmotivação, dificuldade de concentração, falta de iniciativa e de planejamento, nervosismo, ansiedade e perturbações da qualidade do sono. Com base na avaliação neuropsicológica, o diagnóstico sindrômico incluiu alteração da velocidade de processamento, síndrome disexecutiva e alteração visuoconstrutiva, perfil compatível com comprometimento cognitivo leve vascular não amnésico misto. Dessa forma, verifica-se a importância da investigação etiológica do humor depressivo e do tratamento do CCL, com o intuito de atenuar fatores de risco para o desdobramento de síndromes demenciais, cuja evolução deve ser acompanhada por equipe multidisciplinar.