O presente trabalho corresponde a um subprojeto de uma pesquisa maior intitulada “A formação inicial do professor de português e o estágio curricular”, cujos objetivos específicos são: (i) analisar e discutir como o estagiário percebe e interpreta a prática docente do professor de português da educação básica durante o estágio de observação; (ii) analisar e discutir como o estagiário vivencia e interpreta sua própria prática de professor de português da educação básica durante o estágio de regência de turma. No caso deste estudo, especificamente, vamos relatar os resultados relativos ao segundo dos objetivos indicados. A pesquisa se insere no quadro teórico da epistemologia da prática, conceito largamente empregado hoje nos estudos sobre o estágio curricular. Assim, nosso interesse primeiro foi analisar os modos como os estagiários atribuem sentidos às experiências vividas nos estágios curriculares de observação e regência de classe, e as implicações disso para a sua formação profissional. Os dados foram coletados através de gravação em áudio das apresentações dos seminários de conclusão da disciplina Estágio Curricular Supervisionado em Português 3 (regência de turma do 2º segmento do ensino fundamental) do curso de licenciatura em Letras-Português da UFPE, nos quais os licenciandos fizeram relatos descritivos e analíticos do processo de ensino-aprendizagem de língua portuguesa regido no ambiente escolar. Também analisamos os relatórios de estágio apresentados por esses mesmos licenciandos. A análise dos dados foi realizada conforme categorias teóricas definidas a partir da dimensão formativa e teórico-prática do estágio, bem como da orientação metodológica de base enunciativa sugerida atualmente para o ensino-aprendizagem de língua portuguesa. Após a análise do material coletado, pôde-se observar que há alguns indícios que comprovaram a hipótese inicial: os licenciandos pareceram adotar uma postura mais complacente para consigo e para com o professor supervisor quando deixaram a condição de observadores para assumirem a regência de turma. Há, contudo, outros aspectos a considerar, dentre os quais chamou nossa atenção o fato de os futuros professores, nos seus relatos, voltarem-se mais para questões concernentes à escola, ao contexto social dos alunos e à identidade docente do que para os procedimentos de ensino da língua portuguesa propriamente dita. Concluímos que devem ser feitas mais pesquisas acerca do estágio curricular da licenciatura em Letras, notadamente a respeito da escolarização/didatização da língua portuguesa.