Ao problematizarmos o heterogêneo e complexo processo educacional do Brasil, especialmente no que se refere ao ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa, uma das temáticas mais abordadas nos estudos acadêmicos é a questão da deficiência dos alunos diante das práticas de leitura e escrita. Os manuais didáticos são apresentados à comunidade escolar, sobretudo, aos professores, como mais um discurso norteador das práticas didáticas a serem empreendidas nas salas de aula. Instruem a uma pedagogia que aborde o contexto histórico e cultural dos alunos, a fim de que o processo ensino-aprendizagem se torne mais eficaz e os proporcionem maior criticidade no seu papel de cidadão; é o educar para a vida. Fala-se em qualificação, em formação e em responsabilidade acerca desse ensino. O que não se problematiza é o quê, como e por que se pretende ensinar. Conforme preconizam Bachelard (1996) e Bourdieu (1998), temos que estranhar o familiar, uma vez que nada é evidente. Nada é gratuito. Tudo é construído. Nesse sentido, que o presente trabalho discute como foi inserida e adaptada a concepção de letramento nos componentes de Língua Portuguesa no documento oficial de ensino do estado do Maranhão, os Referenciais Curriculares do Ensino Médio do Maranhão, publicado em 2010. Nossa pesquisa de cunho qualitativo, de análise bibliográfica e documental, teve como aportes teóricos Street (2004, 2006), Kleiman (1995, 2014), Jung (2007), Soares (2012) e Tinoco (2009), os quais pesquisam acerca dos novos estudos sobre Letramentos, além de Antunes (2007), Bortoni (1995), Daley (2010) e Rojo (2009,2012, 2013) que acrescentam a respeito do ensino de Língua Portuguesa, sobretudo, com enfoque nos contextos interacionais que o educando se insere por meio da leitura e produção de textos. Nossas análises apontaram que os pressupostos elencados nos documentos oficiais de ensino se fundamentam a partir de uma concepção sócio interacionista de linguagem, tentando superar o ensino de Língua Portuguesa nos moldes tradicionais, contudo, ao analisarmos as orientações didáticas, os discursos acadêmicos foram justapostos, sem uma sustentação teórica coerente e sistemática que subjaza a concepção interacional citada. Além disso, os estudos acerca das concepções teóricas do letramento nos permitiu observar que é possível pensarmos na construção de propostas pedagógicas com outros modos de acesso e distribuição dos bens culturais, de trajetórias de formação, de inserção nas práticas culturais hegemônicas, que culminem na apropriação das práticas de letramento que interessem a um determinado grupo, na equalização das oportunidades de acesso a essa cultura, na autoafirmação e autorização dos sujeitos que seguem essas trajetórias singulares de letramento. Frisamos que nossas reflexões foram pensadas como ponto de partida para formular experiências de letramento escolar que favoreçam os alunos mais vulneráveis, do ponto de vista social e econômico, e diminuam as dificuldades e tensões no processo de acesso aos universos da escrita, infelizmente ainda com níveis tão baixos de educação no Maranhão.