GIUGLIANI, Beatriz. Cultura e cor na escola: uma etnografia com crianças negras na bahia. Anais III CONEDU... Campina Grande: Realize Editora, 2016. Disponível em: <http://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/20600>. Acesso em: 22/11/2024 15:29
Esta comunicação é um recorte da minha Dissertação de Mestrado em Ciências Sociais do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, que discute a questão racial no contexto da Escola Municipal Montezuma, na cidade de Cachoeira (Bahia). Assim, proponho relatar alguns aspectos do trabalho de campo neste contexto escolar, a partir da escolha metodológica de seguir os fluxos da prática da observação participante, das entrevistas semiestruturadas. Trago, pois, parte da experiência vivida com os estudantes da 5° ano A/2012, crianças entre 9 e 12 anos de idade, na tentativa de analisar como estes significam a Cultura Negra neste contexto singular, bem como suas relações com o mundo negro – com a identidade negra. Estes extratos cotidianos serão também espaços privilegiados para a reflexão. De acordo com minha proposta etnográfica, de uma antropologia que seja também escrita (e lida) desde o corpo, o texto em si é estruturado a partir do plano da experiência. Isto é, a narrativa da experiência deverá ser restaurada a fim de propiciar o acesso a uma discussão que se constrói na imbricação entre as dimensões do sensorial e do racional. Portanto, para esta etnografia, ou melhor, para estas etnografias, uma vez pensadas nas suas várias dimensões (etnografia da criança, etnografia da criança negra, etnografia da escola no contexto da modernidade), a descrição é uma interpretação, é encontrar sentido dos significados e ampliar o universo do discurso social. Parece-nos oportuno trazer ideias que sejam alternativas e representem um conhecimento integrativo para as lacunas, lapsos e ignorâncias conscientes que são apresentadas pelos líderes da cultura dominante, dando voz àqueles que convivem com a realidade opressora e desigual. Quando se analisa o povo negro, no campo educacional, e no caso desta pesquisa, numa instituição pública de ensino básico, a desvantagem é destacada e condiciona seu estatuto de cidadania como de “segunda classe”. “Segunda classe” pode conferir um status um tanto forte, mas não menos evidente, ao se tratar da nossa escola, nosso objeto de pesquisa. Atentamos para o fato que estamos pesquisando uma escola no Recôncavo Baiano, onde 88% da população são negros – dados Censo IBGE@cidades/2010. Estamos tratando como minoria uma maioria. Mesmo em se tratando de uma escola de maioria negra, o currículo reverencia uma única cultura, a cultura branca, europeia, a cultura do colonizador. A omissão de conhecimentos sobre os negros e a intenção de desenraizá-los e cultivar mentalidades escravizadas tem sido o objetivo do sistema de ensino brasileiro de modo geral, por meio de conteúdos assim, homogeneizados. O modelo sincrético e híbrido da identidade nacional brasileira, não democrático, construído pela pressão política e psicológica exercida pela elite brasileira dirigente foi assimilacionista. O processo de construção da identidade nacional seguiu uma ideologia hegemônica baseado no ideal do branqueamento. A falta diálogo entre escola, currículo e realidade social e sobre as culturas negadas, estabelecidas historicamente, permanecem revigorando as desigualdades raciais, posicionando os afro-brasileiros em desvantagem em relação ao acesso a bens simbólicos e culturais.