Desde a Grécia Antiga discutia-se filosoficamente sobre “o que é ética?” e a sua função na estrutura social, porém, até então, essa pauta não cessou. Com o advento dos Estudos Culturais, pesquisadores de múltiplas áreas buscaram na análise literária formas de observar as páticas enrredadas em textos literários, antentando para os dilemas vivenciados pelos personagens e propondo considerações sobre aspectos que fazem alusão às relações humanas. Desse modo, presente artigo objetiva realizar uma leitura crítica-interpretativa da narrativa A mulher que escreveu a bíblia (2007 [1999]), do romancista brasileiro Moacyr Scliar, tecendo discussões que problematizem questões ligadas à ética, presentificadas nesta obra literária. A fim de melhor delinear nossa análise, iremos nos ater às passagens que envolvem a relação entre a narradora-personagem e o patriarca da família. Nessa direção, discutiremos sobre como as ações lideradas pela figura paterna são ponderadas pela jovem protagonista. Para isso, contaremos com as noções teóricas de Foucault (2013), Eco (2011), Gancho (2002), Amaral (2018), entre outras. Em tese, acreditamos que todas as reflexões empreendidas pela personagem feminina, a respeito do pai, são mediadas pelo pensamento ético-racional. Ao final da nossa leitura, constatamos que a protagonista, apesar de não confrontar o patriarca, o considera antiético, tendo em vista suas atitudes controversas à posição exemplar que se espera de um líder tribal.