Quando pensamos em um currÍculo que contemple a construÇÃo das identidades dos estudantes, respeitando e valorizando suas diferenÇas - sejam elas sobre gÊnero, raÇa, classe, religiÃo ou etnia -, compreendemos o currÍculo como uma prÁtica intencional e discursiva. Esses discursos, em forma de saberes estruturados, significam, governam, conservam e transformam nossas identidades. Historicamente, percebemos que nessa disputa de poder, a escola torna-se majoritariamente lugar de conhecimentos eurocÊntricos e eruditos, que correspondem À formaÇÃo de um determinado tipo de identidade (MUNANGA, 2012). Isto posto, como imaginar que os estudantes negros construam suas prÓprias identidades? Assim, o objetivo desse estudo É identificar quais discursos sobre a identidade negra aparecem de forma sistematizada na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em especial no componente curricular EducaÇÃo FÍsica. A partir de uma anÁlise documental, percebemos que a BNCC aponta, de forma sintÉtica, para a importÂncia de valorizar a diversidade, contudo, nÃo mostra como fazÊ-la. Uma competÊncia geral da Área de Linguagens – Área que estÁ inserido o componente curricular EducaÇÃo FÍsica - É: “ Identificar as formas de produÇÃo dos preconceitos, compreender seus efeitos e combater posicionamentos discriminatÓrios em relaÇÃo Às prÁticas corporais e aos seus participantes” (BRASIL, 2016, p. 223); Tal competÊncia assim declarada É um avanÇo na busca de uma escola democrÁtica, mas ainda pouco comum nas prÁticas escolares. Identificamos que a BNCC se preocupa em sistematizar conhecimentos acerca da construÇÃo das identidades negras na EducaÇÃo FÍsica, nos blocos de conteÚdo DanÇa, Lutas e Jogos e Brincadeiras. Apesar desses discursos estarem em voga no documento, entendemos que os mesmos estÃo À serviÇo do desenvolvimento de competÊncias e habilidades, o que revela um alinhamento com a lÓgica do mercado (ZABALA 2010) e nÃo com a anÁlise, significaÇÃo e produÇÃo de prÁticas corporais e que despertem um conhecimento crÍtico acerca das mesmas. ConcluÍmos que se nÃo houver formaÇÃo continuada dos professores, espaÇos de diÁlogo sobre as prÁticas profissionais ou acesso À informaÇÃo de qualidade alÉm de anÁlises crÍticas sobre a temÁtica, o tratamento da construÇÃo de identidades negras serÁ superficial e pouco eficaz, se quisermos de fato que nossos estudantes reelaborem seus prÓprios mundos. Enquanto a discussÃo sobre identidades negras nÃo for pauta fundamental dos currÍculos escolares e estiver ancorada no carÁter quase optativo das prÁticas corporais, estaremos fadados a reafirmar posiÇÕes de desigualdade racial estrutural a qual padecemos ainda nos dias de hoje.