Saberes mobilizados pelo professor de música: afinando discursos e práticas na (trans)formação profissional Ismael Silva Rattis/ismaelrattis@gmail.com/Universidade de Brasília Flávia Motoyama Narita/Universidade de Brasília Eixo Temático: formação inicial e continuada de professores com ênfase na análise de experiência, programas e políticas Agência Financiadora: Fundação Universitária de Brasília - FUB Resumo A formação docente envolve construção, desenvolvimento, reconhecimento e mobilização de saberes que são sociais, temporais, plurais e baseados nas práticas profissionais (TARDIF, 2013, p. 54). Esses saberes não se limitam aos conhecimentos trabalhados em disciplinas de um curso de formação de professores, mas envolvem crenças, experiências e valores individuais e socializados. Estes, podem (ou não) estar em sintonia com os conhecimentos validados em um currículo. Assim, ao buscar (re)conhecer e identificar os saberes mobilizados por professores de música em suas práticas de ensino, esta pesquisa pretendeu também analisar como ou quais conhecimentos curriculares são mobilizados (ou não) na prática docente. As reflexões e práticas docentes analisadas para esta pesquisa ocorreram no projeto Caravana da Criança, em que o estudante de iniciação científica (IC) é membro fundador e ministra oficina de percussão. Esta pesquisa teve o objetivo de analisar, (re)conhecer e identificar os saberes e conhecimentos curriculares (TARDIF, 2013) mobilizados pelo estudante IC e primeiro autor deste trabalho. Para fundamentar as análises e as reflexões relacionadas às práticas docentes do estudante IC, foi necessário considerar os educadores como sujeitos históricos e inacabados (FREIRE,1987, p. 72). Isto é, educadores que estão em contínuo processo de aprendizagem. Assim, também foi preciso ponderar que os educadores não são meros transmissores de conhecimentos pré-definidos, mas também portadores e produtores destes. De acordo com Tardif (2013), esses conhecimentos são mobilizados e produzidos por meio de saberes docentes, que são identificados como: saberes profissionais, pedagógicos, disciplinares, curriculares e experienciais. A fim de refletir sobre a autonomia que o educador tem ao mobilizar estes saberes, foi preciso apontar para a responsabilidade e para a dimensão ética que envolve o papel do educador e a sua prática docente (APPLE, 2008). Com relação à metodologia, foi feita uma revisão de literatura relacionada aos saberes docentes e às práticas docentes dos educadores abordados em Tardif (2013), Freire (1987) e Apple (2008). Esta revisão foi importante para que o estudante IC pudesse obter um olhar crítico sobre a sua própria prática docente e identidade profissional. Através do "diálogo" com os autores, durante sua atuação nas oficinas de percussão do projeto Caravana da Criança, o estudante IC buscou sintonizar o discurso à prática para (re)pensar seus valores e crenças, experiências profissionais e acadêmicas que integram (ou não) sua identidade docente. As oficinas ocorreram no primeiro semestre de 2018, entre 12 e 25 de março. Foram ministradas 18 oficinas em 8 escolas públicas, sendo que duas receberam o projeto no turno matutino e vespertino. Participaram das oficinas estudantes da educação infantil e ensino fundamental I, compreendendo a faixa etária entre 5 e 12 anos. Nesta edição do projeto, estima-se que 800 educandos participaram das oficinas de percussão. Com relação aos resultados, a realização desta pesquisa ajudou o estudante IC a identificar e a (re)significar sua prática docente, que percebeu, em alguns momentos, ser "bancária. A educação bancária é aquela em que o indivíduo é visto como recipiente vazio a ser preenchido com conteúdos "depositados" (FREIRE, 1987, p. 58). As reflexões suscitadas nesta pesquisa desencadearam novos desafios e experiências que foram determinantes para as mudanças na oficina de percussão do projeto Caravana da Criança e na própria (trans)formação docente que o estudante IC vem experienciando. Assim, o estudante também pôde perceber as diferenças entre "ser oficineiro", um profissional de notório saber que é responsável pela transmissão de saberes técnicos, pela troca de informação e o "ser educador musical". Concluímos que um educador (musical) é um profissional que deve buscar mobilizar saberes docentes (TARDIF, 2013), construir conhecimento, partilhar experiências e, não somente, reproduzir saberes pré-concebidos. A partir desta reflexão, foi possível compreender a responsabilidade, a dimensão ética e política (APPLE, 2008; FREIRE, 1987) que integram o papel do educador reflexivo que busca formar sujeitos autônomos e críticos capazes de realizarem transformações no mundo que nos cerca. Assim, podemos concluir que esta pesquisa oportunizou o aprofundamento de reflexões acerca do papel do educador musical. As mudanças durante o desenvolvimento do projeto proporcionaram um amadurecimento significativo para formação profissional do estudante IC. Sendo assim, foi possível problematizar algumas competências e diferenças que podem ser consideradas em relação aos profissionais de notório saber (oficineiro) e o de formação formal (educador). Por exemplo, a prática docente do oficineiro pode assumir apenas o papel de transmissor de conhecimento, de técnica, de tradição. Diferentemente do oficineiro, o educador não pode se acomodar à função de transmissor, seja do conhecimento, do currículo, das suas crenças ou valores. Com isso, foi possível também refletir e questionar uma lógica de mercado, que visa a busca por uma mão de obra profissional mais barata. Isso pode influenciar uma certa confusão nestes papéis, trazendo não só injustiças aos profissionais, mas prejuízos à educação. Palavras-chave: saberes docentes, (trans)formação docente, educador musical, oficineiro Referências APPLE. Michael, W. Ideologia e currículo. Tradução Vinícius Figueira. 3º edição, eBook. Porto Alegre: Artmed, 2008. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17º edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 15º edição. Rio de Janeiro: Vozes, 2013.