A INTERDISCIPLINARIDADE NO ENSINO SUPERIOR: REFLEXÕES A PARTIR DE UMA AULA CONJUNTA Gardenia Maria de Oliveira Barbosa/gardenia.oliveira@uece.br/UECE Paula Pereira Scherre/paula.scherre@uece.br/UECE Eixo Temático: Processos de Ensino e Aprendizagem Resumo A interdisciplinaridade, para além da junção de disciplinas, segundo Fazenda (2013), caracteriza uma atitude de ousadia e busca frente ao conhecimento, aspecto que precisa ser considerado, principalmente quando a intenção é formar professores. Esta autora propõe uma "interação envolvente sintetizante e dinâmica, reafirmando a necessidade de uma estrutura dialética, não linear e não hierarquizada, onde o ato profissional de diferentes saberes construídos pelos professores não se reduzem apenas a saberes disciplinares" (FAZENDA, 2013, p. 27). Este trabalho traz uma intervenção educativa pautada nos referenciais da interdisciplinaridade e da complexidade (MORIN, 2000), objetivada na decisão de duas professoras do curso de Pedagogia da FAFIDAM/UECE de ministrarem suas disciplinas, Psicomotricidade e Dinâmica de grupo, realizando encontros conjuntos mensais entre as duas turmas durante o semestre letivo 2018.1. A complexidade, compreendida a partir das ideias de Edgar Morin, é considerada como o "tecido conjunto" constituinte da realidade, dos seres humanos, das relações e da vida. Proposta epistemológica esta que influencia nosso fazer como docente, buscando religar saber(es), conhecer(es) e ser(es). Para a realização dessa intervenção, o diálogo científico e subjetivo de cada uma das professoras guiou o planejamento e a execução das atividades, contemplando princípios epistemológicos e didáticos convergentes e integradores, proporcionando a construção de novos saberes e práticas que contemplassem a formação integral dos educandos, reconhecidamente de natureza cognitiva, psicossocial, afetiva, artística e corporal. Morin (2001) entende que a interdisciplinaridade pode vir a ser alguma coisa orgânica, viva e de natureza complexa, quando implica em troca e cooperação entre as partes, o que foi vivenciado nesta experiência no curso de Pedagogia. A experiência de planejamento conjunto apresentou uma dinâmica de abertura, escuta e diálogo entre as professoras, o que mobilizou referências teóricas semelhantes e diferentes, considerando conceitos específicos de cada uma das disciplinas e, ao mesmo tempo, aqueles que apresentavam a mesma matriz teórica e conceitual. Estas ações integrativas evidenciaram aspectos complementares das duas áreas de conhecimento em questão, a psicomotricidade e a dinâmica de grupo. A metodologia das aulas conjuntas contemplou, inicialmente, cinco minutos de meditação guiada por uma das professoras, desenvolvida com música instrumental, tendo como propósito a ampliação o nível de concentração e abertura interior para envolvimento com as atividades propostas. Para trabalhar os conceitos de corporeidade, imagem corporal, esquema corporal, orientação espaço-temporal, ritmo, afetividade, construção do grupo, olhar e observação, função do facilitador/educador, círculo de cultura, visualização criativa, dinâmica de grupo e vivência, os estudantes foram orientados a se organizar em equipes, escolhendo um dos componentes do grupo para ter o contorno do corpo desenhado em duas folhas de papel madeira, unidas com fita adesiva. A seguir, cada grupo preencheu o desenho do corpo com desenhos, formas, pintura, utilizando lápis de cores, canetinhas e giz de cera, previamente disponibilizados pelas professoras. Neste momento, os grupos foram orientados a não utilizar a fala e, sim, a se comunicar de outras maneiras, tais como olhares e movimentos corporais. Terminada essa etapa, todos observaram e refletiram sobre os desenhos, primeiramente do próprio grupo e, posteriormente, uns dos outros. Enquanto trabalhavam nos desenhos, as professoras fotografavam a dinâmica dos grupos, o que possibilitou a projeção das fotos para que todos também se observassem, refletissem e dialogassem em um círculo de cultura a partir das imagens. Para finalizar a atividade, foi feita uma roda de embalo com olhares e falas de cada estudante, de palavras-síntese mobilizadas pela experiência, sendo esta vivência final inspirada pela música Gracias a la vida, de Mercedes Sosa. A reflexão conjunta de estudantes e professoras sobre a experiência evidenciou a percepção de diferentes olhares, formas de expressões, ritmos, subjetividades e coletividade em movimento, envolvendo a todos na vivência e a compreensão da importância de perceber a si e a ao outro como sujeitos complexos, como partes integrantes e ativas das relações interpessoais em nosso cotidiano, na prática docente e, principalmente, no contexto da formação integral de professores. A partir da proposta de Sommerman (2006, p. 64) acerca da "interdisciplinaridade de tipo transdisciplinar", compreendemos que esta intervenção educativa se identifica com esta concepção, pois promove o diálogo com os conhecimentos considerados como não científicos (das artes, da filosofia, dos atores sociais e das tradições de sabedoria), além de envolver os diferentes níveis do sujeito, a partir da intersubjetividade e do trabalho com a multidimensionalidade humana. Palavras-chave: interdisciplinaridade, intervenção educativa, formação de professores, intersubjetividade Referências FAZENDA, Ivani (Org.). O que é interdisciplinaridade? São Paulo: Cortez, 2013. MORIN, Edgar. A religação dos saberes: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. São Paulo: Cortez, 2000. SOMMERMAN, Américo. Inter ou transdisciplinaridade? da fragmentação disciplinar ao novo diálogo entre saberes. São Paulo: Paulus, 2006.