Nos últimos anos, a palavra gênero tornou-se uma espécie de “Lord Voldemort” (aquele-que-não-deve-ser-nomeado na série fantástica Harry Potter) em determinados meios sociais, sobretudo entre as alas conservadoras e cristãs. A simples menção do termo evocou campanhas contra seu uso, sobretudo no currículo escolar brasileiro e francês. Exemplificando, no ano de 2011, foi cancelada a distribuição do kit escolar anti-homofobia, ou como vulgarmente ficou conhecido, kit-gay, nas escolas brasileiras. Por meio oficial, a então Presidenta Dilma Roussef informa não dever ao Estado a jurisprudência sobre a arena privada de seus cidadãos. Já no meio sociopolítico, a bancada evangélica diz ser o material didático um estímulo à homossexualidade, fato que corromperia a mente e os corpos dos alunos. É dessa ‘monstrificação’ do debate sobre gênero e, consequentemente da sexualidade, por intermédio de alguns setores sociais, que este artigo ganha matéria. Seu objetivo é problematizar o discurso biológico e essencialista sobre gênero à luz da teoria de autoras feministas pós-estruturalistas. Estas informam serem nossas relações históricas e sociais fruto de tensões e acordos coletivos, inexistindo um caráter universal, bússola para as ações humanas. Observou-se após a análise de alguns blogs autonomeados como de direita, cristão e/ou conservador, que o modo como pontuam as manifestações sociais e sexuais tidas como desviantes, constroem espécies de anomalias que, apesar de serem “aceitas”, não permitem a seus praticantes esquecerem o caráter antinatural de suas escolhas. Concluímos que os julgamentos e a construção de monstruosidades ao se instituir uma heteronormatividade oprimem os sujeitos, muitas vezes matando-os social e fisicamente. Fica-nos então o questionamento: como romper com a ideia do “natural biológico” e do “anormal ‘aceitável’”, avançando para uma compreensão da complexidade dos desejos e das relações humanas?