A fauna brasileira é uma das mais diversificadas no mundo e está constantemente ameaçada pelo tráfico e destruição dos habitats. O grupo das aves é um dos que mais sofre com esta realidade, devido a suas cores exuberantes e canto elaborado. Alguns representantes da família Psittacidae, que abrange os papagaios, periquitos, araras e jandaias são tradicionalmente utilizadas como animais de companhia ou de estimação, sendo espécies comumente procuradas no comércio ilegal devido a sua inteligência e a capacidade de imitar a fala humana. Além dessas características, a maioria dos táxons apresenta belas plumagens coloridas e exuberantes, fazendo com que essas aves sejam perseguidas na natureza por traficantes de animais, sendo comercializadas por todo o mundo. Estas ações ilegais levam ao declínio populacional local, contribuindo para a inclusão das espécies em categorias de ameaça ou mesmo à extinção, principalmente daquelas espécies que não apresentam ampla distribuição pelo país ou são muito exigentes ecologicamente. Portanto, o objetivo deste trabalho é realizar um levantamento de espécies de psitacídeos recebidas pelo Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) do Centro de Conservação e Manejo de Fauna da Caatinga (CEMAFAUNA) no período de março de 2009 a agosto de 2017 visando identificar e quantificar as espécies mais apreendidas e discutir suas implicações para conservação das mesmas. Para isso, foram reunidos os dados de entrada no CETAS entre os anos de 2009 a 2017 de todas as aves pertencentes à família Psittacidae. O total de indivíduos da família Psittacidae recebidos no período de avaliação foi de 1.661, número considerado muito elevado tendo em vista a análise de uma única família avifaunística. Este valor evidencia o impacto do tráfico ilegal sobre as populações naturais de periquitos, papagaios e araras na natureza. Verificou-se, ainda, que muitas espécies recebidas pelo Centro são nativas/endêmicas de outros biomas brasileiros, não apresentando distribuição para a Caatinga e sendo esta atividade criminosa a responsável pela introdução dessas aves no semiárido nordestino. Além disso, espécies da fauna com elevado grau de ameaça nacional também deram entrada no centro, o que evidencia o impacto do tráfico nas populações mais frágeis, mesmo com tamanhos esforços para conservação das espécies.