Ecossistemas estuarinos são corpos costeiros de água semi-fechados e dinâmicos devido a influência da maré e do fluxo de água doce. A biocomplexidade e geomorfologia desses ecossistemas estuarinos possibilitam grandes disponibilidades de nutrientes e à ampla distribuição das espécies de peixes que utilizam os diferentes habitats estuarinos em todo o seu ciclo de vida ou ao menos em parte dele. O semiárido abrange boa parte da região Nordeste, dominando praticamente toda a porção ocidental da Paraíba e suas características climáticas de temperatura e precipitações irregulares influenciam os sistemas estuarinos O presente estudo tem como objetivo avaliar a dieta da espécie Diapterus auratus Ranzani, 1840 (Perciformes: Gerreidae) no Estuário do Rio Mamanguape – PB, buscando verificar as possíveis relações tróficas que existem de acordo com as escalas espacial e temporal. Foram definidas duas zonas de coleta ao longo do estuário (inferior e superior), cada zona com duas réplicas e selecionados os peixes coletados nos meses de abril, maio e junho, correspondente ao período chuvoso e outubro, novembro e dezembro, que correspondem ao período seco. Os peixes foram coletados com o auxílio de redes do tipo “fyke” e “beach seine”. Posteriormente à identificação, foi realizada a análise do conteúdo estomacal e identificados os itens alimentares no menor nível taxonômico possível. Foram calculadas as frequências de ocorrência (FO%), frequências numéricas (FN%) e frequências volumétricas (FV%) e posteriormente foi aplicado o Índice de Importância Relativa (IRI%) para cada zona e período. Para verificar as possíveis diferenças espaço-temporais dos valores volumétricos da alimentação foi realizada uma PERMANOVA com 9999 permutações. Foram coletados 366 indivíduos, com a maior abundância numérica obtida na seca. Dos 366 indivíduos coletados, 241 estômagos apresentaram conteúdo estomacal, constituindo 65% do total de estômagos abertos. De acordo com os dados obtidos acerca dos eixos espacial e temporal, os itens alimentares que se apresentaram como presas mais dominantes foram microcrustáceos zooplanctônicos (Calanoida e Cyclopoida), e a análise dos dados revela a existência de segregação espacial e temporal na dieta de D. auratus devido a codominância de itens diferenciados, sugerindo que esse mecanismo seja reflexo da dieta muito semelhante e que esse comportamento funciona como estratégia a fim de diminuir a competição por recursos alimentares entre os indivíduos. Além disso, a análise através da PERMANOVA indicou diferenças significativas espaciais e temporais quanto ao volume dos itens observados, o que fomenta o entendimento da segregação e exploração dos recursos alimentares. Revela também uma plasticidade trófica em procurarem fontes alimentares mais rentáveis, que também corrobora com a diminuição da competição pelos mesmos itens.