A transmissão da memória através da tradição alimentar se dá de forma prazerosa, sendo responsável não apenas pelo lado nutritivo do contexto e sim o lado afetivo, do alimentar-se e trazer essas memórias à tona, assim como Claude Fischler quando nos diz que o homem nutre-se também de imaginário e de significados, partilhando representações coletivas. Se é possível avaliar o valor nutritivo do alimento (um combustível a ser liberado como energia e sustentar o corpo), o ato de se alimentar implica também em um valor simbólico, o que complexifica a questão, pois requer um outro tipo de abordagem. Como a memória pode influenciar na nossa experiência subjetiva em relação à alimentação e nutrição? Esta pergunta, levantada coletivamente, guia parte das atividades do grupo estruturado Aprender é viver, durante o semestre corrente. O grupo denominado Aprender é Viver nasceu em 2006 como um projeto interdisciplinar da Universidade Federal do Rio Grande do Norte com os usuários atendidos no ambulatório do curso de Nutrição tendo como foco central a melhoria da qualidade de vida de pessoas portadoras de doenças crônicas não transmissíveis. Dessa forma o objetivo é relatar a experiência do trabalho com o tema das memórias alimentares neste grupo. Foram sugeridos assim, que os participantes trouxessem receitas que desencadeassem lembranças de tempos passados, de sabores que ficaram eternizados na memória. Com esse material fez-se um livro coletivo de memórias contendo cada receita, bem como um vídeo contendo a explicação de cada receita e o motivo daquela ter sido escolhida para o encontro, constituindo assim um material para análise. Para que o trabalho fosse desempenhado primeiro foram abordados assuntos gerais sobre o tema escolhido para discussão no semestre: alimentação do idoso. Em seguida, o tema da memória alimentar, como processo de reflexão daquele momento que estava sendo vivido, emergiu como tema de interesse do grupo. A partir disso os encontros estruturaram-se nesse contexto, de relembrar as memórias alimentares, trazê-las para discussão e nortear os pensamentos quanto à importância desta no contexto da alimentação do idoso. Neste sentido, pudemos perceber que a memória alimentar está intrinsecamente ligada ao componente subjetivo do homem ao realizar suas escolhas alimentares. Portanto, atividades para promoção da alimentação saudável e adequada devem levar tal fator em consideração. Em se tratando da alimentação do idoso, pudemos perceber que o modo como ele se alimenta e, assim, transmite o patrimônio da memória às gerações seguintes pode torná-lo um importante ator a ser incluído em atividades de educação alimentar. Ainda fica evidente a necessidade de proteger este patrimônio que é a memória do idoso, também, por meio de sua alimentação. Concluímos que ao resgate da memória como processo de subjetivação pode nos ajudar a ressiginificar hábitos alimentares do presente e assim, constituir-se em uma importante ferramenta para promoção da alimentação saudável e adequada. Neste contexto, não só nutricionistas, mas também idosos tem um importante papel nas atividades de educação alimentar.