O incentivo à leitura dos textos literários no ambiente escolar revela uma predisposta acolhida, por parte dessa comunidade, à recorrente ideia de que o ato de ler pode convidar ao ato de escrever. Não obstante, determinados “movimentos de corpos consumidores de histórias” ainda parecem não corresponder às expectativas das práticas usuais e diversificadas (utilizadas para o convencimento de futuros leitores) e se estabelecem em comunidades quase invisíveis a olho nu, constituindo-se em identidade, supostamente, não institucionalizada, não oficial, não escolar de leitores. Perceber esse burburinho fantasmagórico instalado em “quartos fechados” nas redes sociais, blogs, fanfictions ou saletas de livrarias possibilita enxergar um pouco mais de perto esses grupos os quais devotam horas à conquista de páginas às centenas de sagas literárias como Jogos Vorazes, Os instrumentos Mortais e Percy Jackson. Nesta discussão primeira, tenta-se investigar possíveis identidades culturais, tomando como base a linguagem e aspectos comportamentais adquiridos a partir das experiências de leituras das quais se apropriaram esses sujeitos; também, os fatores históricos, e/ou sociais que, no decorrer do tempo, desenharam esse construto fronteiriço redefinido. A proposta é levantar, sistematizar, discutir dados a respeito da rotina do leitor, também do aparato social que o cerca e que ele aponta como determinante para sua condição de apreciador dessas sagas. O presente trabalho visa expor essa discussão, à luz das teorias de Bakhtin (1998, 2003) que considerou a linguagem como um constante processo de interação mediado pelo diálogo. À percepção do enunciado bakhtiniano, concreto, marcado por vozes, reuniu-se o conceito, de Hall (2005), das identidades modernas “descentradas, ou fragmentadas”, “constituídas historicamente, não biologicamente”. Tais orientações teórico-metodológicas possibilitam entender as comunidades de leitores como espaços construídos, conforme desejos/saberes/experiências de seus participantes.