Os conceitos e ideias de interdisciplinaridade permeiam as discussões mais atuais nos cenários educacionais. Tende-se, atualmente, a se optar por uma prática que valorize o interdisciplinar, na intenção de provocar uma aprendizagem mais global, mais completa, interligada nas diversas áreas de conhecimento. Ao falar em Interdisciplinaridade, Fazenda a considera “uma relação de reciprocidade, de mutualidade, que pressupõe uma atitude diferente a ser assumida frente ao problema de conhecimento, ou seja, é a substituição de uma concepção fragmentária para unitária do ser humano”. Há uma fuga do modelo do saber compartimentado, isolado em si mesmo, em lados distintos, em áreas distintas. E a valorização do saber popular, das culturas regionalistas, é um outro aspecto bastante importante no cenário educacional contemporâneo, assegurada por documentos oficiais – como os PCN e até mesmo, de forma mais tênue, a BNCC. Nosso país é imenso em extensão territorial e, por consequência também de seu processo de colonização, apresenta uma vasta diversidade de crenças, culturas e formas de expressão, o que torna cada comunidade única, com características próprias. Assim, a escola deve ser “o local de mediação entre a teoria e a prática, o ideal e o real, o científico e o cotidiano” (GONDIM; MÓL, 2009, p. 2). Pensando nessa interdisciplinaridade, e na necessidade de trazer o ato da leitura para o cotidiano discente, mostrando-a como uma tecnologia concreta, “usável” continuamente, além de buscar despertar o lado da sensibilidade artística do aprendiz, surgiu a ideia da atividade que misturou memórias leitoras com literatura de cordel. Com o objetivo de trazer à tona a capacidade de usar gêneros textuais dos mais diversos em sua vida e de forma natural, empírica, inerente ao comportamento social humano, passível de acontecer desde sempre na vida de cada um, pediu-se que o aprendente produzisse um memorial de suas primeiras memórias leitoras e escritoras. As produções foram lidas em sala, não por seus autores, mas aleatoriamente, para se discutirem os aspectos que mais chamaram a atenção no tocante ao enfoque do despertar da habilidade leitora/escritora, mas depois cada autor comentava sobre o lado emotivo, psicológico da memória exposta, para que se estruturasse a importância do incentivo, ou da falta dele, para a formação do perfil leitor/escritor. Assim, a turma podia verificar como cada pessoa tem o seu tempo de escrever, de ler e como essas duas habilidades são tecnologias que devem ser trabalhadas. Ao se transformarem essas memórias em um cordel, apura-se o senso artístico e literário, pois o aprendiz irá trabalhar com rimas, cadência, ritmo, métrica, além de favorecer a apropriação de um gênero textual que valoriza o sujeito nordestino, sertanejo, detentor de uma cultura rica em expressão e em imagens, culturais, usuais, regionais. Como resultados, tivemos um texto único onde todos os memoriais foram contemplados, mesmo que de maneira sutil e implícita, um aboio (entendido como cordel cantado) e um vídeo protagonizado coletivamente, todos associando o tema (memórias leitoras e escritoras) à menção da importância do desenvolvimento das habilidades leitora e escritora para a ação proficiente do sujeito social.