Com o intuito de fomentar uma discussão interdisciplinar em sala de aula, em que se enfatizem os sujeitos sociais contemporâneos e o espaço ocupado por eles nas produções ficcionais atuais, este trabalho se propõe a verificar como as narrativas hodiernas representam esses novos agentes da nossa sociedade, dando-lhes protagonismo e voz através da representação literária. O texto que nos servirá de corpus é o conto do escritor pernambucano Marcelino Freire, “Linha de tiro”, na versão que o autor preparou para a antologia Geração 90: manuscritos de computador (2013), organizada por Nelson Oliveira, uma seleção dos melhores contistas do último decênio do século XX. Nessa narrativa, deparamo-nos com um diálogo entre dois sujeitos marginais em um transporte urbano coletivo, espaço simbólico representativo das inter-relações subjetivas da nossa realidade político-social, no qual um ladrão intenta assaltar uma mulher assalariada. Para o devido entendimento da estrutura narrativa utilizada pelo ficcionista em questão, recorreremos às elucidações de Norman Friedman, em seu texto “O ponto de vista na ficção: o desenvolvimento de um conceito crítico” (2002), com a sua esclarecedora tipologia sobre os estilos de narração. Para compreender, de maneira mais sólida, os diálogos empreendidos pelos sujeitos sociais do final do século XX, pediremos auxílio ao indiano Homi Bhabha, em sua obra O local da cultura (1998), que, em seus estudos pós-coloniais, contribuiu para esses debates ao tratar de conceitos importantíssimos como “entre-lugar” e “terceiro espaço”.