Envelhecer, assim como o nascimento, nos confronta com o desconhecido, com o inominável, com a morte. Aprendemos, desde cedo, a ignorá-la e, para tanto, somos introduzidos numa rede discursiva, alimentada por ideais mercadológicos, que comercializa a ilusão de uma juventude eterna, de um corpo imune ao tempo, de uma beleza que se aprisiona, de uma felicidade calcada na aparência. Nessa esteira de engodos, deixamo-nos levar pelas promessas de uma vida sem dor, sem sofrimento, como se a existência, desprovida do viço físico, não mais reclamasse o sentido. E assim, enredados em equívocos, com a visão embotada pelo medo, enxergamos o processo de senescência como infortúnio e estagnação. Suas marcas nos inquietam e nos atormentam, pois não conseguimos mobilizar o significante capaz de nomeá-las e, opor conseguinte, o real se inscreve na pele, subjugando o simbólico. O que seria da ordem da linguagem, converte-se, então, em angústias primitivas de perseguição. A imagem soturna de um ser encapuzado, segurando uma foice, representa bem o temor que nutrimos e projetamos ante a certeza da finitude. Nossa pesquisa, numa interface entre a psicanálise e o cinema, busca examinar, no texto fílmico O Amor nos tempos do cólera”, adaptação do romance homônimo do escritor colombiano Gabriel Garcia Marques, as vicissitudes do amor em relação ao tempo, à velhice. Como arcabouço teórico, recorreremos aos estudos (pós) freudianos, em especial os desenvolvidos pelo psicanalista Jacques Alan Miller.