Background: A velhice é considerada um período crítico ao desenvolvimento de alterações nas funções executivas, considerando a vivência de situações de maior vulnerabilidade biológica, psíquica e social, principalmente de eventos de vida estressores (EVE). Estes eventos, que costumam marcar o curso de vida, têm sido associados a um declínio mais precoce de funções executivas, dificultando o desempenho em atividades complexas associadas ao contexto laboral, familiar e do cotidiano que impliquem autonomia. Objetivo: Considerando o contexto de envelhecimento e de grande vulnerabilidade à situações estressoras dos idosos brasileiros, este estudo tem como objetivo examinar a associação entre EVE e escores obtidos em testes de funções executivas entre idosos inseridos na comunidade. Metodologia: Estudo transversal com 3.263 idosos de 60 a 75 anos, funcionários ativos ou aposentados de seis universidades públicas do Brasil, participantes do Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto (ELSA-Brasil). Para avaliar as funções executivas, utilizaram-se o Teste de Trilhas (forma B), Fluência Verbal Semântica e Fonêmica. Os EVE foram avaliados através da escala de Eventos de Vida Produtores de Estresse. O desfecho principal foi escore z dos testes e a exposição principal os EVE isoladamente e conjuntamente. Foi realizada uma análise de regressão linear simples e multivariada para investigar a associação principal. Resultados: Verificou-se que o escore do teste de fluência verbal semântica associou-se negativamente com dificuldades financeiras (beta=-0,10; IC95%=-0,20 – -0,02) mesmo após ajuste por covariáveis, indicando que aumento desse EVE tende a diminuir a quantidade de palavras faladas pelo idoso neste teste. Os escores do teste de Trilhas e Fluência Fonêmica também mostraram-se associados aos EVE em conjunto e com dificuldades financeiras e perda de ente querido, porém a significância estatística não se manteve após ajustes. Os EVE mais prevalentes foram dificuldades financeiras além das habituais (14,88%) e perda de entes queridos (13,64%), tendo como principais fatores associados gênero feminino, alguma alteração no estado de saúde, aposentados que tiveram ocupação laboral não manual não rotineira e sintomas depressivos. Conclusões: Estes resultados apontam que dificuldades financeiras além das habituais, falecimento de ente querido e EVE conjuntamente estão associados com os piores desempenhos nos testes que avaliaram as funções executivas, ainda que a associação não tenha se mantido significante após ajuste. Por serem resultados preliminares deste estudo, ainda é necessário uma maior investigação sobre os possíveis confundidores dessa associação.