Este trabalho refere-se a uma experiência empírica desenvolvida pela psicologia e amparada na psicanálise, em instituição de longa permanência para idosos (ILPI). Freud, em alguns escritos, coloca a análise como algo não possível para idosas/os. Entretanto, ele também desafiou seus sucessores a continuar os estudos e ampliar suas teorias. Assim, na atualidade a psicanálise já entende que o trabalho psíquico é possível a todo aquele que se coloque à disposição, pois a análise se ocupa do sujeito do inconsciente, que não envelhece. Na clínica, a escuta é do um-a-um, no caso-a-caso. Diferentemente do consultório, onde idosas/os são encaminhadas/os pela demanda familiar. Nessa experiência aqui relatada, a demanda veio das/os próprias/os idosas/os e surpreendeu a abertura para o processo de escuta e análise. Para esse fim, foi utilizado em grupo terapêutico a leitura de livros e de letras de músicas que pudessem ser analisadas e debatidas a partir da vida de cada participante. Concomitantemente a esses momentos, também ocorreu a escuta individual para que fosse possível acessar conteúdos de idosas/os que estão entre 65 e 94 anos, lúcidas/os e ávidas/os em falar, em escutar e em investir nas relações que construíram dentro e fora da ILPI. O referencial teórico se baseou na psicanálise para não fixar esse tempo da vida em questões meramente fisiológicas, mas a partir do que cada sujeito pode sinalizar de si e da sua história. Assim, os resultados demonstraram que as angústias da vida estão presentes independentemente da fase que cada sujeito se encontre, embora seja singular a escolha atual diante da velhice e do abrigamento. Essa experiência constitui uma troca que em alguma medida, idosa/o e psicóloga se colocam na transferência para emergir o saber e os discursos que atravessam essa nova vestimenta que vai em busca do desejo.