Sabemos que a literatura produzida por mulheres foi, durante muito tempo, reprimida, e, em certas ocasiões, de maneira cruel e violenta. Não estamos falando apenas da literatura divulgada (condição recente), de livros, artigos, e afins, mas até mesmo a manutenção de um diário pessoal era combatida, como também o foi o acesso à educação. Ao transporem as inúmeras barreiras das sociedades em que viveram, e conseguirem escrever poemas e romances, contos, peças, ao lado do cânone -maciçamente masculino e misógino- muitas mulheres foram subversivas, foram transgressoras, reacionárias, mas há ainda um elemento ideológico que as tomou de maneira tão intensa, que lhes parece inato: o amor. Mas não qualquer amor; falamos aqui de um amor romântico, idealizado culturalmente durante séculos, um amor onde a mulher está, quase que invariavelmente, à eterna espera do ser amado, fadada ao sofrimento - sofrimento este que, não alivia, pela catarse, a opressão da realidade em que se encontra, mas ao contrário, subjuga ainda mais a condição feminina. Neste artigo, procuraremos mostrar como alguns poemas de Fernanda Young, retirados de seu livro Dores do amor romântico, apontam as conquistas femininas refletidas no plano literário e denunciam o discurso desse amor romântico que se apropria da voz feminina, mesmo quando ela parece combatê-lo.