Artigo Anais do X CIEH

ANAIS de Evento

ISSN: 2318-0854

"LIBERDADE OU SOLIDÃO?": MULHERES NEGRAS IDOSAS E RELACIONAMENTOS AFETIVOS

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Publicado em 20 de dezembro de 2023

Resumo

Muito se discute sobre o papel dos relacionamentos amorosos no processo de subjetivação das mulheres, entendendo tal relação como um elemento importante na sensação de bem-estar da população feminina, visto o senso de obrigatoriedade imposto às mulheres sobre o casamento. Todavia, tais estudos estão majoritariamente circunscritos à camada feminina branca e jovem, apontando uma escassez de pesquisas sobre o caráter dos relacionamentos amorosos em populações interseccionais. Somando os determinantes de gênero, raça e geração, emerge o questionamento: mulheres negras idosas também são perpassadas por relacionamentos amorosos da mesma forma? Frente a isso, foi utilizada a Teoria das Representações Sociais para investigar os significados que mulheres negras idosas atribuem aos relacionamentos amorosos em suas vidas. Foram entrevistadas 31 mulheres negras idosas no Distrito Federal, com média de idade de 68,8 anos, sendo a mais nova com 60 anos de idade, e a mais velha com 87 anos. Utilizou-se a Análise Microgenética do Discurso para análise. Aproximadamente 90,3% da amostra não está em um relacionamento amoroso. Foram relatadas experiências de negação e discriminação dentro dos relacionamentos na juventude. Contudo, ainda que muitas tenham mencionado relacionamentos passados, elas não indicaram a intenção de se relacionar novamente. Os discursos apontam que essa falta de vontade não advém dos preconceitos lançados para a vida amorosa de pessoas idosas, mas sim do simples não querer. Então, surge a hipótese de que, na juventude e vida adulta, as mulheres são requisitadas a estabelecer relações amorosas. Na velhice, isso não pareceu ser uma prioridade para mulheres negras, mas sim saúde, dinheiro e lazer para assegurar um envelhecimento de qualidade. Esse fato expõe que, em termos geracionais, talvez essa seja a primeira vez que mulheres negras têm a possibilidade de cuidar de si, sem a necessidade de um relacionamento para a garantia de direitos básicos em um país desigual.

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