O presente artigo busca elucidar as representações literárias de natureza fantástico-distópica atuantes no conto Solfieri e o Espectro do Casarão Sombrio, do autor contemporâneo Enéias Tavares, no que concerne às figurações da violência contra a mulher oriundas da exageração da masculinidade degenerada retratada na obra. A proposta objetivou à experiência pedagógica de impacto com a literatura, captando as impressões do público discente matriculado na etapa do Ensino Médio frente à leitura da temática abordada, contrapondo a visão de leitores e leitoras na relação com o texto, de modo a gerar a reflexão sobre as causas derivadas de uma estrutura social de dominação masculina que culminam em atos violentos contra as mulheres. Diante disso, criou-se espaço de discussão para compreender situações em que tais incidentes ocorrem, suas causas na história e meios de prevenção à violência contra a mulher. Parte-se do método da literatura comparada para investigar as conexões desta obra com seus níveis intertextuais e com os saberes contemporâneos que permeiam o texto, como também da aplicação dialógica da obra contextualizada em espaço didático introdutório, experimental, analítico e reflexivo para diálogo com o texto literário, tal como postula Cosson (2006). Baseado nos estudos de Bourdieu (2019), Gomes (2013), Matangrano e Tavares (2018), Muszkat (2018) e Oliveira (2004), verificou-se a construção de uma distopia que cristaliza os atos de uma masculinidade que preza por sua superioridade sobre o gênero feminino e o oprime, deixando cicatrizes reais e morais nas vítimas. Desta forma, o impacto do texto apreciado pelo público escolhido para esta pesquisa reverberou sobre as estruturas sociais que ainda hoje infectam perspectivas individuais e coletivas das comunidades nas quais os discentes inserem-se, oportunizando o espaço para diálogo e ampliação da visibilidade da prevenção de casos de violência contra a mulher por meio de uma mudança de mentalidade.