Pelo presente trabalho, apresento experiências com a leitura de poesia em sala de aula realizadas na Escola Municipal Quilombola Antônia do Socorro Silva Machado, localizada em Paratibe, na cidade de João Pessoa-PB. Inserida nas questões identitárias que perpassam o currículo quilombola e estão assentadas no Projeto Político-Pedagógico da instituição, tal proposta didática consistiu em oferecer a jovens do nono ano do ensino fundamental uma sequência de leituras de poemas que trazem a temática da mulher negra e sua condição sócio-histórica. O silenciamento e invisibilidade de sua existência foram também problematizados a partir dessa abordagem temática, que dialogou com a crítica feminista e os aportes da decolonialidade para o ensino de literatura. Para tanto, foram decisivas as contribuições de HOOKS (2017, 2019), EVARISTO (2021) GOMES (2020), AKOTIRENE (2019), VERGÈS (2020) e RUFINO (2021). Os poemas abordados são Ordem Natural das Coisas e Vozes-Mulheres, respectivamente da autoria de Emicida e Conceição Evaristo, e possibilitaram construção de sentidos e interação inclusive lúdica através de leitura dramática pela oralização coletiva. Mais que um relato de caso de sucesso didático, almejo aqui a uma re-elaboração de motivações pedagógicas enquanto leitor e professor, uma vez que o contexto de ensino problematiza constantemente a minha formação inicial e as concepções de cânone a que fui submetido durante largos anos entre teorias e práticas.