Originalmente compilado da tradição oral, o tema da jovem e bela mulher adormecida, despossuída e/ou aprisionada por encanto de bruxas más é bastante recorrente nos contos de fadas e recebeu versões de Perrault e dos Irmãos Grimm. Na teoria psicanalítica, o mundo infantil estrutura-se na dinâmica psicológica da divisão e os contos de fadas espelham em suas histórias essa divisão. Localizadas em uma luta entre o bem e o mal, a bondade e a maldade, a beleza e a feiura, os contos de fadas analisados espelham as percepções originadas na interação das crianças com os adultos de seu grupo familiar. O perto referenciado como acolhedor, conhecido, bom, amoroso, seguro e o desconhecido objetos/pessoas como a fonte de perigo e maldade, ambos jamais presentes no perto. Nos contos de fadas, o perigo é representado pela bruxa, a qual, por sua vez, incorpora elementos psicológicos indesejados, não presentes nos que “estão perto”. Neste trabalho, focalizaremos a bruxa no conto “A Bela Adormecida do Bosque”, de francês Charles Perrault e “A Bela Adormecida”, dos Irmãos Grimm alemães, tendo como referencial teórico os mitos e arquétipos de Jung (2008), a discussão sobre o lugar do feminino nos contos de fadas de Franz (2010) e os contos de fadas como contos morais de Cashdan (2000).