VISITA AO BERÇO DO PODER: UMA AULA DE CAMPO NA CÂMARA MUNICIPAL DE SALVADOR. RAFAEL PASSOS rafaell_passos@hotmail.com/UFBA LUCAS PACHECO lucaspacheco8@yahoo.com/UFBA As aulas de história estão associadas ao desenvolvimento humano e crítico dos estudantes. Cerri (2010) defende que "o fenômeno social do ensino de História surge no contexto da construção deliberada de identidade nacional, durante o processo de construção da soberania popular, em detrimento da soberania real". Partindo desse pensamento, durante uma aula sobre os poderes de governo surgiu uma necessidade de compreender melhor como funcionam essas instituições na prática. Uma aula de campo foi planejada tendo em vista o anseio dos alunos em observar, vivenciar e sentir-se pertencentes a sociedade que fazem parte. Essa aula foi planejada para os alunos que cursam o 9º ano do ensino fundamental no Colégio Estadual Vale dos Lagos, que se situa na Estrada da Muriçoca, uma região carente e rodeado de comunidades próximo a Av. Paralela, mas distante do centro de governo local que está alocado no Centro de Salvador. A temática da aula de campo estava vinculada aos desdobramentos políticos no Brasil Contemporâneo relacionado ao papel dos três poderes (executivo, legislativo e judiciário), uma aula em meio ao "berço do poder local", a Câmara Municipal de Salvador, foi proposta para fazer esse debate e aprimorar os conhecimentos. Essa inquietação dos alunos foi percebida durante a aula sobre a Modernidade e as mudanças na forma de governo onde Montesquieu com seu "Espírito das Leis" foi o principal pilar da discussão. Apesar de terem compreendido a importância da divisão e equidade dos três poderes para manutenção da sociedade moderna, permanecia um certo desconhecimento sobre a função específica de cada poder, seus limites e responsabilidades, as promessas que são ou não pertinentes ao cargo, em especial no que tange a política atual do Brasil, de modo que muitas dúvidas eram levantadas sobre essa elite política. Pensando nessa problemática, foi organizada uma aula em conjunto com o Memorial da Câmara, através do Projeto EDUCAMARA que viabiliza a ida de estudantes ao Memorial, e a possibilidade de conversa com os vereadores de Salvador, o que foi de extrema importância para causar uma perturbação positiva sobre o modo de fazer política na Cidade de Salvador e quem são os detentores do poder político local. Heraclides Catabriga (2016) defende que "para que sejam assimiladas as informações, os fatos, os objetivos das atividades devem fazer sentido para cada aluno. É preciso lançar mão de desafios para que estejam interessados no assunto, chegando a agregar informações que os leve, provavelmente, a construir conceitos científicos a partir das atividades orientadas", desse modo, a provocação em uma aula de campo terá sentido vivo para o cotidiano dos estudantes que tentarão se apropriar com mais prazer do conteúdo de sala. Há, ainda, as defesas de Paulo Freire sobre a Mediação Mialógica e o incentivo a autonomia (1996) em que o autor defende que não há um conhecimento acabado e existem diversas maneiras do professor mediar um conhecimento específico, tornando o aprendizado prático ao cotidiano do aluno; já a defesa de Maria Célia Texeira (1996) e a prática de ensino relacionada a museus e memoriais tá intimamente ligada a manutenção da memória para que não seja visto, como diria Cazuza, "o futuro repetir o passado"; e a ideia de identidade e memória de Joel Candau em "Mémoire et Identité" (1998), cuja teoria defende a intima relação entre a memória coletiva e o sentimento de pertencimento a um grupo específico ou ainda a negação de pertencimento e a busca por modificações. Para a eficácia dessa aula fora dos muros da instituição de ensino e nos braços da sociedade, mais especificamente no local onde se decide sobre a vida da sociedade soteropolitana, foi primeiramente trabalhado a ideia dos três poderes projetados por Montesquieu e suas funções; a discussão sobre papel de um vereador somado a suas atribuições, salários, ajudas de custos, formas de se candidatar e outros aspectos levantados pelos alunos; o que simbolizava a Câmara de Salvador no período colonial e atualmente (séc. XXI); e ainda como as mulheres se inserem no contexto político da metrópole baiana. Esses levantamentos prévios foram de grande importância, pois durante o período em campo as inquietações foram aumentadas sobre diversas temáticas, tais como salário de vereadores em comparação com a de outras profissões importantes, promessas de campanha que não fazem parte das atribuições do cargo, postura mediante a sociedade em períodos eleitorais e fora deles. Desse modo, a partir da aula de campo foi possível perceber um melhor entendimento por parte dos alunos sobre o papel dos três poderes, as funções dos vereadores e prefeitos, o papel de cada cidadão para a cidade e a manutenção da ordem, do bom convívio e bom funcionamento da máquina pública. O aprendizado que fica é de fato poder integrar os alunos a esses debates, uma vez que muitas pessoas não possuem a consciência necessária, para poder cobrar e fazer valer os seus direitos, como defende Cerri (2010) sobre um ensino de história que desperte a Consciência Histórica, de certo que consciência política, civismo, luta por direitos, e questões sociais fazem parte do processo de ensino-aprendizagem da matéria. Palavras-chaves: História; Aula de Campo; Didática; Memória. REFERENCIAS: CATABRIGA, Heraclides.Aula de Campo: Uma Estratégia de Ensino na Formação do Indivíduo Cidadão. Paraná, 2016. CARDAU, Joel. Mémoire et Identité. 1a Ed, 1998 FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo, 1996. TEXEIRA, Maria Célia. Construindo um processo metodológico. Cap. 4, CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nº 7, 1996 CERRI, Luis Fernando. Didática da História: uma leitura teórica sobre a História na prática. Revista de História Regional 15(2): 264-278, Inverno, 2010.