SEXUALIDADE NA ESCOLA: POR UMA FORMAÇÃO HUMANA E EMANCIPATÓRIA Kélita Priscila Vieira Santos Gonçalves/kelitavieira@hotmail.com / Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri Anna Beatriz Bicalho de Oliveira/ Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri João Paulo Silva Meira/ Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri Luciana Resende Allain/ Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri Eixo Temático: Educação, Linguagens, Tecnologias e Valores Agência Financiadora: CAPES Resumo Este texto relata experiências pedagógicas sobre a temática da sexualidade vivenciadas no âmbito do PIBID, em duas escolas de ensino fundamental e médio, situadas na periferia de uma cidade do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Em um momento crítico para o caminho da educação brasileira, muito se debate sobre a inclusão ou não do tema "gênero e sexualidade" nas escolas. Tradicionalmente o tema sexualidade é tratado na escola através da disciplina de ciências e biologia, quando aborda o conteúdo de corpo humano. No entanto, entendendo que a sexualidade transcende o aspecto meramente biológico, o tema passou a fazer parte dos currículos escolares a partir da década de 1990, por meio dos Parâmetros Curriculares Nacionais, que tratam esta temática como um "tema transversal", perpassando todas as disciplinas. Apesar do notório reconhecimento da importância desta temática para a educação escolar, nos últimos anos iniciativas duvidosas buscam retirar a discussão da sexualidade e da diversidade sexual dos planos curriculares, movidos especialmente por interesses políticos e religiosos, que criticam o que ficou conhecido como "ideologia de gênero" (Klein, 2015). Na obra Pedagogias da Sexualidade, LOURO (1997) alerta que a sexualidade é uma invenção social, que instaura saberes e produz verdades. Portanto, nossa sexualidade é uma construção social, historicamente situada. Assim como Louro, compreendemos a sexualidade como uma manifestação do ser humano, sendo necessário fomentar o seu debate no âmbito escolar, já que na atualidade, o acesso à informações de fontes duvidosas, advindas da internet e de redes sociais, pode mais (des)educar que esclarecer, gerando inseguranças e reforçando mitos já arraigados no senso comum. Muitos destes mitos revelam inclusive um total desconhecimento sobre o próprio corpo. Nesse contexto, a escola têm um papel fundamental para o esclarecimento e diálogo aberto para com os adolescentes, de acordo com a sua faixa etária, promovendo uma educação emancipatória, que forme humanos que se respeitem, respeitem seus desejos e os do próximo. Nesta perspectiva, o PIBID tem papel fundamental na formação de futuros professores sensíveis a esta situação. No PIBID em foco, realizamos atividades nas escolas A e B, com o objetivo de esclarecer dúvidas dos estudantes e desconstruir os mitos mais prevalentes. Na escola A, a prática foi desenvolvida junto com a professora e a coordenadora do projeto. Explicamos os métodos contraceptivos e mostramos exemplares de cada um, esclarecendo sobre seu uso e funcionamento. Com a ajuda de alguns modelos sintéticos do sistema reprodutor masculino e feminino, mostramos a forma correta de colocar a camisinha masculina. Também foi criado um jogo com a finalidade de diagnosticar os conhecimentos dos alunos. Nesse jogo uma caixa com perguntas passava de mão em mão enquanto reproduzia uma música. Na medida em que a música parava, o aluno responderia a uma das questões. As perguntas formuladas buscaram esclarecer as dúvidas usando de uma linguagem mais próxima à dos alunos, que tem a faixa etária entre 15 e 21 anos. Algumas das perguntas foram: "mulheres que usam roupas curtas estão mais dispostas a fazer sexo?" Com essa pergunta foi possível problematizar a presença marcante de julgamentos advindos de estereótipos. Foi possível conscientizá-los sobre os constrangimentos e preconceitos sofridos pelas mulheres. Outra questão foi: "Anticoncepcionais previnem DST's?." Nessa resposta foi possível conscientizar os alunos que o único mecanismo que previne DST's é o uso da camisinha durante a relação sexual, além de diferenciar os anticoncepcionais de preservativos. Uma outra questionou: "Homossexualidade é uma relação que ocorre entre dois homens? Entre duas mulheres? Entre um homem e uma mulher? Entre duas pessoas do mesmo sexo?". Após essa pergunta percebemos alguns constrangimentos, inquietações e comentários preconceituosos. A discussão se baseou em inteirar sobre o direito do outro em ser respeitado, independente da orientação sexual, e em ter uma vida afetiva saudável e amorosa. Já na escola B, realizamos atividades no 9° ano, na disciplina de ciências. Alguns assuntos como a higiene pessoal e gravidez na adolescência foram previamente percebidos como necessários para serem discutidos, além do sistema reprodutor masculino e feminino, anatomia humana e a identidade de gênero. A prática foi realizada em duas aulas: iniciamos com o questionamento sobre "o que é sexualidade?", a fim de saber se havia um conhecimento prévio por parte dos alunos. Em seguida apresentamos um modelo do sistema reprodutor masculino e feminino, e repassamos as maneiras corretas de higienização de cada um. Também foram abordados os principais "mitos e verdades" sobre a sexualidade. Uma caixa foi deixada na sala durante a semana para que os alunos depositassem suas dúvidas de forma anônima. A segunda aula foi destinada para responder às perguntas feitas pelos alunos. Identificamos uma incompreensão em relação ao próprio corpo e às diversas formas de proteção. Em relação à identidade de gênero, percebemos a reprodução do machismo nos meninos e o quanto essa cultura ofensiva e discriminatória é enraizada. Nessa experiência podemos perceber que, apesar da polêmica que gira em torno da discussão sobre sexualidade em sala de aula, é importante a insistência em construirmos um olhar crítico. Vivemos em um momento em que somos pressionados e limitados dentro da educação escolar, seja por leis, bancadas religiosas, família e parte da própria sociedade, que apóiam a exclusão de diversos temas dentro da escola por acreditarem que tais discussões desvirtuam a construção de identidade da criança ou adolescente. Porém, o que se tem criado são adolescentes e adultos despreparados e desrespeitosos, o que reforça a ideia de que esse tema deve resistir e persistir nos contextos educacionais. Para falar de sexualidade, deve-se quebrar os tabus que foram construídos ao longo da história da humanidade, que favorecem na maioria dos casos, que os meninos tenham uma maior liberdade de expressão corporal e sexual, enquanto as meninas sofrem com duras repressões. Nesse processo, percebemos o PIBID como ferramenta importante para nossa formação pessoal e profissional, pois através dessas vivências nos sensibiliza às demandas presentes no cotidiano escolar, e reinteramos a necessidade de desenvolver a educação sexual nas escolas visando, por direito, a emancipação do indivíduo. É imprescindível que através do conhecimento e respeito, possamos resgatar as famílias através de uma educação de amor, de conhecimento e carinho, desapropriando dessa maneira, todas as discussões de ódio e desrespeito com o nosso corpo e o do outro. O que defendemos é que a sexualidade seja abordada em sala de aula para que os adolescentes iniciem sua vida sexual de forma plena e saudável, não invadindo o espaço ou direito de escolha de qualquer cidadão. Palavras-chave: PIBID, educação emancipatória, sexualidade, formação de professores Referências: LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação. Uma perspectiva pós-estruturalista Guacira Lopes Louro - Petrópolis, RJ, Vozes, 1997. p. 14-36.