Os discursos dominantes, que estabelecem arbitrariamente as fronteiras entre o normal e o patológico, ainda encaram a homossexualidade como algo ignominioso e abjeto, uma “maldição” capaz de sorver a humanidade, transformando sujeitos em monstros lascivos, regidos por uma luxúria desenfreada. Se associarmos à homossexualidade, outra condição historicamente sórdida, o quadro que já era penoso torna-se insuportável: o envelhecer – processo que desperta medos numa sociedade que cultua o corpo jovem, sem as marcas do tempo. Os conflitos que perpassam as duas condições são similares e tal conjectura irrompe-se nas territorialidades fílmicas, onde o amor entre iguais dilui-se em representações plásticas, ora sedutoras e rarefeitas, ora letárgicas e resistentes. Abuelitos (2005), curta-metragem da espanhola Verónica Sáenz, põe em voga concepções estabelecidas sob o sujeito inscrito na intersecção velhice/homossexualidade para apontar outras possibilidades. Durante o desenrolar da trama, somos levados a questionar certos estigmas que, amiúde, deturpam essas condições, destituindo indivíduos da sua dignidade. Destarte, alicerçados nas contribuições sócio-históricas de Stearns (2010), Naphy (2006), e Ceccarelli (2008), procuramos refletir sobre o espaço a que o sujeito velho/homossexual é impelido a ocupar e as vicissitudes decorrentes dessa imposição. Também, propomos discutir os diferentes arranjos que a relação homoafetiva possibilita – possibilidades estas que vão de encontro com preconceitos arraigados no imaginário popular.