Apesar da capacidade aeróbia ser apontada como componente primordial no desempenho em eventos de moderada e longa duração, certa resistência ainda persiste quanto à sua relevância frente à recuperação pós exercícios de alta intensidade. Quando investigada, essa perspectiva está unicamente relacionada ao nível de treinamento. No entanto, a experiência prévia quanto ao tipo de exercício no qual esse contexto é estudado é, por muitas vezes, negligenciada. Diante desse cenário, nos parece importante investigar a influência da experiência prévia na recuperação pós esforço de alta intensidade, sobretudo sobre a cinética da concentração de lactato sanguíneo ([Lac]) e o momento no qual o pico desse metabólito ocorre. Assim, o objetivo do presente estudo foi analisar a cinética do lactato sanguíneo pós esforço de alta intensidade em indivíduos com e sem experiência prévia em exercício de ciclismo. Vinte indivíduos saudáveis do sexo masculino foram divididos em dois grupos (n=10 por grupo), de acordo com a experiência prévia em ciclismo (G1-sem experiência - 23±3 anos, 72,8±10,1 kg, 177,0±0,9 cm; G2-mínimo de 2 anos - 24±2 anos, 80,1±12,4 kg, 178,0±0,1 cm). Todas as avaliações foram realizadas em cicloergômetro (Monark 894e). O Wingate Anaerobic Test (WAnT) foi aplicado visando a aquisição da potência pico (PPico), média (PMed), mínima (PMin) e índice de fadiga (IF = ((PPico- PMin) / PPico)*100). Previamente ao teste, um aquecimento de 5 minutos foi realizado a 20% da intensidade do WAnT (7,5% da massa corporal), a 80 rpm. Em seguida, os indivíduos permaneceram em recuperação passiva por 5 minutos e, logo após, submetidos a um esforço máximo durante 30-s. Após o WAnT, coletas de sangue do lóbulo da orelha (25 μl) foram extraídas a cada minuto para análise da [Lac] (expressa em mM), até o 12° minuto. Os resultados do WAnT foram comparados por Teste-t Student. A [Lac] pós WAnT foi comparada pelo ANOVA Two-Way (experiência x momento). A significância foi fixada em 5%. Diferenças significantes foram obtidas para PPico (G1=775,49±177,94; G2=944,16±167,34W; P=0,042) e PMed (G1=458,50±68,75; G2=547,12±60,83W; P=0,006). Por outro lado, nenhuma diferença quando analisado o IF (G1=59,65±10,38; G2=60,99±7,72; P=0,746). No que tange a [Lac] pós WAnT, o ANOVA não apontou efeito das variáveis fatoriais (P=0,995) (G1-Min-1°=8,7±2,7; 2°=11,6±2,6; 3°=12,5±2,5; 4°=12,8±2,7; 5°=13,6±3,3; 6°=13,0±2,7; 7°=13,2±3,3; 8°=12,8±2,7; 9°=12,6±2,9; 10°=12,2±3,0; 11°=11,9±2,9; 12°=11,4±3,1) (G2-Min-1°=6,7±1,4; 2°=10,7±1,3; 3°=12,08±1,6; 4°=12,2±1,6; 5°=12,6±1,6; 6°=12,8±2,1; 7°=12,8±1,9; 8°=12,3±2,2; 9°=12,6±2,3; 10°=12,0±2,1; 11°=11,5±2,0; 12°=11,5±2,4). Em síntese, apesar da experiência prévia em ciclismo influenciar as respostas de potência anaeróbia dos avaliados em cicloergômetro, nossos resultados mostraram que esse fator não foi determinante na recuperação pós-esforço de alta intensidade, sobretudo no atingimento da [Lac] pico, bem como sua remoção após esse momento.