As briófitas são plantas avasculares diminutas e poiquilohídricas. Apesar disso, apresentam-se amplamente distribuídas no globo ocorrendo sob as mais variadas condições ambientais colonizando vários tipos de substratos. São plantas pioneiras em ambientes estressantes como as caatingas nordestinas, caracterizadas pela escassez hídrica e intensas taxas de evapotranspiração. As caatingas nordestinas são os domínios fitogeográficos mais susceptíveis à desertificação no atual cenário de mudanças climáticas. Aliado a isso, as caatingas são contempladas apenas com 7,4% do seu total delimitado por uma Área de Proteção Ambiental (APA). O site da Flora do Brasil (2016) registra para as caatingas o total de 108 espécies de briófitas. A Paraíba possui aproximadamente 90% do seu território sob o bioma Caatinga e registra 176 espécies de briófitas das quais 19% são endêmicas para o país. Isso constitui a Paraíba como um Hotspot de briófitas para o Brasil. Vários estudos nas caatingas nordestinas vêm apresentando uma flora representativa para o domínio fitogeográfico desmistificando o status de pobreza incutido pelo fato das briófitas serem poiquilohídricas. Isso indica também a necessidade de esforços de coleta e estudos ecológicos e conservacionistas em ambientes xéricos. Nesses ambientes, os filtros ambientais temperatura e escassez hídrica devem influenciar a disposição de grupos funcionais no espaço. Assim, catalogamos as briófitas da APA do Cariri, caracterizando a estrutura da comunidade, taxonômica- e funcionalmente. A APA, cuja área abrange 18.560 há, localiza-se entre os municípios de Boa Vista e Cabaceiras, sendo considerada microrregião dos Cariris Velhos. A área delimitadafoi a Fazenda Salambaia que possui uma área de 477 km² de paisagens rochosas ou de solos rasos com vegetação entre cursos d’água intermitentes, que desaparecem na estação seca, possuindo clima tipo Bsh. Nós coletamos aleatoriamente em todos os substratos disponíveis à colonização de briófitas. Para avaliar se há a formação de agrupamento funcional, nós utilizamos Análises de Componentes Principais (ACP) a partir dos atributos potencialmente adaptativos descritos em literatura. Entretanto, em vista da pouca quantidade de hepáticas registradas, nós as excluímos da análise. Dentre as 11 espécies identificadas (oito musgos e três hepáticas), a hepática Riccia plano-biconvexa constitui um novo registro para o estado da Paraíba. Isso, provavelmente, deve-se à incipiência das excursões de coleta, uma vez que a espécie já foi registrada nos estados circunvizinhos. A despeito da pouca quantidade de espécies, 36% destas são endêmicas para o Brasil. Isso aponta a importância da conservação da APA e de seu monitoramento face às mudanças climáticas. As mudanças climáticas devem alterar a distribuição atual das espécies, o que pode promover a extinção, ao menos, em nível local. A comunidade mostra uma distribuição funcional de espécies no espaço. Estes atributos são muito importantes para essas espécies evitarem e tolerarem a dessecação. As quatro espécies endêmicas para o país ressaltam a importância desta área. Os estudos sobre a flora de briófitas em ambientes xéricos são de suma importância, não apenas para embasar estudos comparativos do passado e do presente, mas devem auxiliar na tomada de decisões sobre manejos de áreas das caatingas que vêm sofrendo com a desertificação intensa.