No contexto do semiárido brasileiro, o cantador de viola consegue – através da sua habilidade poética e do simbolismo presente no seu imaginário – ressignificar os espaços, sentimentos, in-quietações e aspirações, típicos do universo dos sujeitos que ali habitam. A força da memória expressa na sua narrativa, tida pelo cânone como de borda, traz à tona o que Moita Lopes (1995) chama de sentimento “dos povos do sul”, ratificador da grande tensão, engendrada histo-ricamente pelas políticas colonialistas dos chamados “do norte”. Segundo Changeux (1974), Le Goff (2002), Zumthor (2010) e Barthes (1971), o comportamento narrativo tem uma função social que transcende a mera fixação mecânica da informação. Entendendo a memória como “não só ordenação de vestígios, mas releituras destes” (CHANGEUX 1974, p. 35), “reconstrução regenerativa” (LE GOFF, 2002, p. 430) e “onde tudo isso sobrevive” (HAVELOCK (1996, p. 274), este trabalho investiga a presença da força da memória no imaginário do cantador, atra-vés da análise de fragmentos de textos retirados de um corpus de 06 (seis) subgêneros textuais presentes no grande gênero cantoria de viola, e a partir de 04 (quatro) categorizações de memó-rias propostas: a) Memórias positivas de ressignificação; b) Memórias negativas de ressignificação; c) Memórias de ressignificação cíclica com os elementos da natureza; e d) Memórias de re(in)(a)comodação do homem no seu espaço. A proposição dessas categorias, ligadas a um gênero oral, objetiva melhor didatizar os procedimentos analíticos, considerando-se as variáveis envolvidas na formação dos subgêneros da cantoria, com forte presença da memória.