A problemática do adolescente em conflito com a lei frequenta o cotidiano das cidades, é exposta na mídia e provoca polêmicas. No campo acadêmico o impacto produzido por infrações praticadas por adolescentes se revela nas produções científicas da Psicologia Social que, em interface com as Políticas Sociais direcionadas para infância e juventude, tem se esforçado para compreender fenômenos contemporâneos de violência e de reintegração social juvenil. Nesta perspectiva relata-se a experiência de docentes e discentes dos cursos de Psicologia, Enfermagem e Educação Física da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), no Programa de Extensão denominado “Sol de Primavera”. O presente relato se alinha com o objetivo central do Programa e tem por objetivos específicos: divulgar e disseminar a experiência de professores e alunos na condução de uma oficina de cinema; correlacionar as percepções de professores e extensionistas com os princípios que norteiam as medidas socioeducativas e refletir sobre as verbalizações e interações estabelecidas pelos adolescentes no transcurso da oficina. O presente relato se estruturou como uma das etapas do ciclo metodológico da pesquisa-ação (TURATO, 2003), especificamente a descrição dos efeitos produzidos por uma oficina de cinema. Participaram 09 adolescentes com idade entre 13 e 20 anos; 05 alunos e 02 professores. Foi exibido o filme “Malévola” (Walt Disney Studios, 2014), que, em sinopse, pode ser narrado como uma releitura da fábula da Bela Adormecida. A oficina foi planejada/executada em etapas: apresentação da ficha técnica; exibição do filme; roda de conversa; avaliação da atividade e anotações em diário de campo. Para análise foi realizada leitura e discussão coletiva, objetivando a categorização e análise temática do material proveniente dos diários de campo. Foram identificados três eixos temáticos. O primeiro reúne discursos sobre a efetividade dos filmes como estratégias propiciadoras de reflexões. O segundo eixo se organiza em torno dos princípios que norteiam as medidas socioeducativas (BRASIL, 2006), sobressaindo-se as reflexões a respeito dos direitos humanos; a concepção do adolescente como pessoa em desenvolvimento, sujeito de direitos e responsabilidades; a excepcionalidade e brevidade da aplicação de medidas socioeducativas; o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários e o esclarecimento da opinião pública acerca das medidas socioeducativas. O último eixo temático reúne polaridades em torno de representações sobre “o herói e o vilão”, “o ataque e a defesa”, “a vingança e o perdão”, “formas de amor e de amar” e, ainda, discursos sobre o “outro lado de toda história”. Ressalvadas as limitações inerentes ao relato de uma única experiência com oficina de cinema, a atividade contribuiu com o processo de formação dos alunos, mostrou-se efetiva enquanto estratégia para suscitar reflexões, mobilizar a expressão de afetos e o interesse dos participantes para tratar de aspectos éticos do cotidiano, facilitar a narrativa das infrações cometidas e avaliar a qualidade das relações interpessoais.