Discutem-se resultados de pesquisas sobre políticas públicas de fornecimento de água na zona rural: a Operação Pipa (OP), coordenada pelo Exercito e a Defesa Civil, que distribui água potável em situações emergenciais, e o Programa de Formação e Mobilização para a Convivência com o Semi-Árido - Um Milhão de Cisternas Rurais/P1MC, idealizado pela Articulação do Semiárido Brasileiro. Concebido para ensinar a coletar, cuidar e usar a água de chuva busca que as atividades socioeconômicas dessas famílias sejam sustentáveis durante eventos de seca. Na estiagem atual as cisternas armazenam as águas distribuídas pela operação pipa e por pipeiros não cadastrados.
As questões levantadas foram: 1) reservar água de qualquer origem e qualidade pode dificultar o manejo das cisternas quando novamente seja coletada água de chuva para consumo humano? 2) a quantidade da água potável distribuída satisfaz necessidades básicas?; 3) diarreias em crianças, reduzidas durante na época de consumo de água de chuva, podem aumentar pelo uso de águas “boas” em algumas cisternas e “ruins” em outras?.
Foram entrevistadas 18 famílias de três municípios do médio sertão paraibano em situação de calamidade pública (Quixaba, Patos, Malta) e 10 famílias da comunidade Chã da Pia /Município de Areia (agreste/brejo), no período agosto/2013-julho/2015. Realizaram-se visitas às famílias, aplicados questionários, incluídos piperos e membros do exercito. Coletaram-se amostras de água (cisternas, potes nas residências) e analisada sua qualidade (APHA,2012).
A água distribuída pela operação pipa em cada viagem não enchia a cisterna (16.000L vs 10.000L do carro-pipa), em eram abastecidas varias cisternas em cada viagem, causa principal do aumento de frequência. Verificaram-se usos excessivos de água por usuários “cientes do retorno do carro pipa”. A cobertura foi satisfatória em Quixaba e Chã da Pia (70 -75%), com flexibilidade para modificar a frequência segundo a demanda
A água de cisternas e potes não satisfez dois parâmetros básicos de potabilidade; 100% das amostras com ausência de cloro residual (exigido entre 0,2-2mg.L-1) e com contaminação fecal (deveria ser nula). A falta de cloro residual favoreceu a presença de coliformes e E.coli. Faltou dialogo entre os gestores dos dois programas e destes com as secretarias de saúde municipais que seguindo diretrizes do SUS/MS e aplicadas pelo P1MC, ensinam a clorar a água antes do consumo, enquanto o exercito, buscando preservar a água distribuída, proibiu adicionar “qualquer produto”. Casos de diarréia em crianças, embora escassos, aumentaram em 100% em 2014 na única comunidade na qual os dados foram disponibilizados.
Ambas as políticas públicas podem ser otimizadas para preencher aspetos de quantidade e qualidade da água A operação Pipa deve ampliar a frota e emponderar a qualidade, que necessita da compreensão de sua importância pelos usuários. Devem-se preservar os princípios norteadores do P1MC, que o diferenciam de um beneficio de assistência pública. A interação complementar dos dois programas é essencial e com o SUS. AVAs e ACSs podem ser excelentes colaboradores das políticas emergências e do PIMC, estimulando a participação propositiva, o manejo e preservação da qualidade da água e o controle de quantidade.