Na última década uma nova visão vem emergindo em relação à estiagem no ambiente semiárido. Observa-se que o velho discurso de “combate à seca”, que não foi capaz de resolver os problemas socioeconômicos advindos com os longos períodos de estiagem, abriu caminho para novos discursos rotulados de “práticas de convivência com o semiárido”. Com isso, é importante analisar como este novo paradigma vem influenciando a vida de famílias que enfrentam uma condição de fragilidade, principalmente quanto à escassez de água, inclusive para suprir prioridades do cotidiano como beber e cozinhar. Uma dessas práticas, a cisterna de placas, é uma política que visa promover o mínimo de segurança hídrica que proporcione uma melhor qualidade de vida para o povo do sertão. A mesma foi incorporada no ambiente semiárido através do Programa de Formação e Mobilização Social para a Construção de 1 Milhão de Cisternas (P1MC), promovido pelo governo federal. As cisternas de placas vêm incorporando novos cenários na paisagem do semiárido. Essa tecnologia social surgiu a partir da relação sociedade/natureza, com isso, é importante ter a percepção de que esta relação influenciou e ainda influi no processo histórico de construção da paisagem geográfica, trazendo-lhe uma nova dinâmica no que diz respeito ao uso da água no ambiente semiárido. Nesse sentido, a presente pesquisa tem o intuito de apresentar os resultados de uma experiência de convivência com o semiárido a partir da análise do uso de cisternas de placas no contexto da paisagem de superfície sertaneja na localidade de Pau Branco no município de Frecheirinha- Ceará. Optou-se pelo referido município por ser um dos berços do P1MC e por inserir-se no ambiente semiárido. Para a efetivação da pesquisa foi necessário um levantamento bibliográfico e também uma pesquisa de campo, na qual foi realizada uma pesquisa direta a partir de entrevistas e aplicação de questionários com as famílias. Na localidade de Pau Branco a questão da busca pela água não findou após a conquista da cisterna, a partir de entrevistas ficou claro que muitas famílias precisam comprar água para beber. Essas famílias alegam que a água da chuva foi insuficiente para encher a cisterna, e por isso, não tem qualidade. Outro fator para a não utilização dessa água é o problema de rachaduras na cisterna que ocasionam o vazamento de toda ou quase toda a água que é armazenada. Portanto, percebe-se que apesar das recentes mudanças nas políticas que visam amenizar o problema da seca, onde se ressalta atualmente a nova percepção de convivência com o semiárido, existe ainda a necessidade de avaliar a eficácia de tais medidas sociais.