CUNHA, Camila Ramos et al.. O que te alucina? arte e processos de subjetivação em gênero. Anais XI CONAGES... Campina Grande: Realize Editora, 2015. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/10773>. Acesso em: 23/11/2024 02:50
Neste trabalho, apresentamos um relato de experiência de pesquisa-intervenção, visando cartografar processos de subjetivação em arte e gênero, presente nos banheiros de duas instituições de ensino superior do Rio Grande do Norte, com o objetivo de analisar tais processos encontrados em diferentes expressões: desenhos artísticos, rasuras, críticas escritas em paredes e portas, pensamentos alheios, frases, citações de autores, e tantas outras expressões, registrados em forma de fotografia, e reunidos no trabalho. A análise destas mensagens e a presença delas estão embasadas nas seguintes obras: "O corpo utópico, as Heterotopias" de autoria de Michel Foucault, Judith Butler e a Teoria Queer, "Cartografia do desejo" de Guattari & Rolnik, numa temática que dialoga com os conceitos de sujeito, subjetividade e modos de subjetivação na contemporaneidade, e arte relacional. Partimos da premissa de que a língua não é um sistema fechado voltado para o próprio sujeito, e sim uma reprodução de valores, crenças, regras, políticas, sociais, biológicas, materiais e toda uma bagagem cultural que vem atrelada à este processo de comunicação, além disto, o banheiro é envolto por uma semiótica atravessada por valores biológicos baseado nas diferenças genitais/sexo, os quais, por vezes são usados como argumentos para impedir a entrada de transgêneros; em meio a esta temática, surge uma "Heterotopia" no banheiro, justapondo uma regra em um lugar real, criando um lugar imaginário de comunicação nos limites físicos impostos arquitetonicamente (paredes e portas). É baseado nisto, que iremos analisar as mensagens que os usuários deixam uns aos outros, com o recorte em gênero,cartografando estes processos nos departamentos das universidades. Além disso, em nosso processo de pesquisa, observamos uma particularidade na instituição de ensino superior privado, a qual não apresentava mais que 10 inscrições dos usuários no total nos limites físicos dos banheiros. Logo, decidimos realizar nossa pesquisa-intervenção por meio do trabalho com arte relacional, gostaríamos que os usuários dos banheiros de tal instituição superior privada expressassem suas opiniões, ou mesmo o que lhes viesse à mente, criando um espaço imaginário de comunicação, uma "Heterotopia" como Foucault aponta, dentro destes locais. Nossos materiais utilizados foram: canetas e cartolinas. Colocamos cerca de 13 cartolinas espalhadas dentro das cabines dos banheiros, tanto femininos, quanto masculinos, colamos na parte de dentro da cabine, e as canetas foram presas a um fio nylon à disposição de quem entrasse nelas e quisesse se expressar. Cada cartolina continha 1 pergunta, que ao total somavam-se 13 perguntas em cada banheiro, dentre elas: “Para você o que é ser Mulher?”; “Para você o que é ser Homem?”; “Você concorda que travestis e transexuais utilizem o banheiro masculino? Porquê?”; “Você concorda que transexuais utilizem o banheiro feminino? Porquê?”; “Você é a favor da criação de banheiros unissex?” “Defina seu corpo com uma palavra”; “Queremos saber… O que te alucina?”; Os cartazes ficaram expostos por um período de 24 horas na universidade, e no outro dia foram recolhidos. Reunimos este resultado no presente trabalho.