INCLUSÃO PELA LINGUAGEM: UM ESTUDO SOBRE O AUTISMO Suenia Roberta Vasconcelos da Silva - UNICAP (sueroberta@hotmail.com) Isabela Barbosa do Rêgo Barros – UNICAP (ibelabarros@gmail.com) As primeiras descrições sobre o autismo correspondem à publicação, em 1943, do artigo Autistic Disturbances of Affective Contact, do autor Leo Kanner, pesquisador e psiquiatra infantil que, na época, identificou um grupo de onze crianças em que as alterações na linguagem e a dificuldade na interação social formavam uma constante. Essas representam o quadro clássico sintomatológico caracterizado pelo uso inadequado da linguagem, olhar vago, resistência ao toque, uso das pessoas como objetos e de brinquedos de forma não convencional, resistência a mudanças na rotina e no ambiente, fixação pelo movimento rotatório, movimentos rítmicos e estereotipados do corpo. (KANNER, 1943; 1966) Destacamos, entretanto, que nem sempre todos esses sintomas estão presentes entre os sujeitos. Atualmente, o autismo é reconhecido como um transtorno do desenvolvimento que faz parte do grupo dos Transtornos do Espectro do Autismo (TEA), de acordo com o DSM V, compêndio médico publicado pela Associação Americana de Psiquiatria, usado como referência para pesquisas, diagnóstico e classificação dos transtornos mentais. Para o sujeito ser diagnosticado com autismo, os sintomas devem comprometer a vida cotidiana e a capacidade social, além de ter iniciado na mais tenra infância. Entre as dificuldades observadas no autismo, há um destaque para as alterações encontradas na linguagem, caracterizadas por mutismo, vocalizações, neologismo e ecolalia. Essas últimas são definidas nos dicionários médicos como uma repetição de palavras ou frases ouvidas anteriormente no discurso de outras pessoas (RUIZ TORRES, 1987; REY, 2003). Fernandes (1996) e Nicolosi et al (1996) esclarecem que a ecolalia pode ocorrer imediatamente (ecolalia imediata) ou tardiamente de maneira automática (ecolalia mediata ou atrasada) ou, ainda, de forma alterada, voluntária ou não (ecolalia mitigada), podendo as reproduções serem pronunciadas com a mesma entoação e estarem relativamente relacionadas a contextos específicos. Esse fator de repetição da ecolalia associado ao mutismo, vocalizações e neologismo possibilitou que desde sua origem o autista fosse percebido como desprovido de linguagem, em virtude da dificuldade de comunicação. O objetivo deste trabalho é discutir sobre as características inerentes a linguagem do autista como um fator de inclusão social, no instante em que o interlocutor reconhece os arranjos linguísticos particulares ao transtorno como carregados de sentido, e, desse modo, possibilita o desenvolvimento da linguagem. Apresentamos uma pesquisa qualitativa, do tipo estudo de caso, baseado nas observações da linguagem de uma criança autista, sexo masculino, 8 anos de idade, que participa do Grupo de Convivência e Acolhimento Autismos, da Universidade Católica de Pernambuco. O corpus de análise foi composto de quatro fragmentos de linguagem selecionados do banco de dados do laboratório de linguagem do Programa de Pós-graduação em Ciências da Linguagem daquela mesma universidade e analisados através do programa Eudico Linguistic Anotator conhecido como ELAN. A linguagem da criança analisada se caracteriza por ecolalia imediata, neologismos e raros momentos de palavras isoladas. Observamos que, durante as atividades recreativas do grupo, havia um esforço dos interlocutores (estudantes do curso de Letras e de Fonoaudiologia, fonoaudióloga e psicopedagoga) para significar e contextualizar as alterações de linguagem, possibilitando a inclusão do sujeito no grupo. Baseado nos estudos da Linguística da Enunciação representada pelos trabalhos de Émile Benveniste (2005; 2006), que afirma ser o homem um sujeito de linguagem, pois é pela e na linguagem que o homem se constitui como sujeito na relação entre o “eu” e o “tu”, percebemos que ao significar a linguagem do autista promovemos o seu desenvolvimento, a instituição do sujeito e a consequente inclusão do autista na linguagem e no contexto.Palavras-chave: Autismo, linguagem, inclusão